Outro dia, ao deitar, fiquei com essa música na cabeça: “Nós somos as cantoras do rádio, levamos a vida a cantar. À noite, embalamos seus sonhos, de manhã, nós vamos te acordar”. E, num dos grupos de WhatsApp, uma aluna citou a música “A Rosa”, do Pixinguinha. Aí, pensei se alguém da minha turma de estimulação cognitiva conheceria essas músicas.
A minha memória episódica me levou à minha infância – exatamente na cozinha. Enquanto minha mãe se ocupava dos deveres domésticos, eu e meus irmãos fazíamos a lição de casa. O rádio ficava ligado, minha mãe ora cantava, ora tomava a nossa tabuada. “Como ela conseguia ser multifuncional? Ela era uma heroína!”, pensava. No final da tarde, era a hora da ‘Ave Maria’ e das radionovelas – uma, em especial, acompanhei até o fim, “O direito de nascer” – e ficava imaginando como era feita a sonoplastia.
Dalva de Oliveira, Ângela Maria, Roberto Carlos…
As pessoas que nasceram nas décadas de 40/50, e que vivenciaram essa experiência, se lembrarão das novelas, cantoras, músicas, comerciais. Então, nada como trabalhar a memória a partir dessas lembranças.
Montei um exercício onde coloquei um trecho de música e meus alunos tinham que adivinhar o restante da música. O repertório circulou entre Dalva de Oliveira, Ângela Maria, Elza Laranjeira, Roberto Carlos, entre outros artistas. Foi um momento especial, de muitas recordações para todos. E acabamos descobrindo, inclusive, os cantores do grupo.
“Bonita camisa, Fernandinho”
Bom, vamos incrementar esse exercício? Eu, sempre, com uma carta na manga! Identificação de bordões. Opa, o que é isso? Bordão é uma é uma expressão repetida diversas vezes por indivíduos ou grupos e, normalmente, tem origem na televisão, rádio ou na publicidade, e nada mais são que frases ou expressões que caíram no gosto popular.
Exemplos: “Quem quer dinheiro!”, “Vem pra cá, vem pra cá”, bordões usados pelo apresentador de TV Silvio Santos; “Gracinha”, bordão da Hebe Camargo; “Isso é uma vergonha!”, do Joelmir Beting; “Estando bom para ambas as partes…”, do Celso Russomano; ”Beijo do gordo”, do Jô Soares; “Bonita camisa, Fernandinho”, do comercial de camisas da antiga USTop; “Amo muito tudo isso”, do McDonald’s; “Você faz maravilhas com leite moça”, da Nestlé, dentre tantos outros conhecidos.
“A Era do Rádio”
Além de trabalharmos a memória, desenvolvemos a flexibilidade mental, pesquisa, conhecimentos gerais, memórias episódicas, semântica e artística. É uma atividade divertida, trazendo lembranças e identificando gostos e preferências. Ouvir a minha turma dizer: “Nossa, Toninha, era isso mesmo! Adorei lembrar!”, como diz o bordão da Nestlé: “Você faz maravilhas com leite moça”. Brincadeira. É prazeroso e fazemos maravilhas quando o grupo está comprometido, motivado e disposto a desafios.
Comecei falando das cantoras do rádio, e ressaltando que todas nós mulheres somos como rosas, queria encerrar esse artigo citando um filme muito importante chamado “A Era do Rádio”, do Woody Allen, uma retrospectiva da infância e juventude através de uma série de situações nos dias de ouro do rádio, mostrando-o não apenas como veículo de entretenimento ou informação, mas, também, como grande responsável pela construção do imaginário, visto que não tínhamos a imagem, a cena.
O filme apresenta situações pitorescas, até cômicas, que muitas famílias, celebridades da época viveram – tudo no contexto da Segunda Guerra Mundial. Muitos de nós, com mais de 60, viveram essa fase, e podemos nos lembrar desses momentos. E valem a pena lembrar para mantermos nossa memória ativa.
Revisitar e valorizar a nossa infância
Agora, num momento nostálgico, coloco “I’m getting sentimental over you”, de Tommy Dorsey, e faço a seguinte reflexão: “O que aprendemos com essas atividades?”. Aprendemos a revisitar e valorizar a nossa infância, agradecer a influência dos nossos pais e professores, e expressar os nossos sentimentos. Agradecemos por termos acompanhado a evolução tecnológica.
Infelizmente, a cada ano que passa, essas recordações ficam cada vez mais distantes. Essas músicas e personagens serão lembrados pelas nova gerações? Graças a Deus que tivemos esse privilégio.
Foto: Photobank Portal Terceira Idade
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Maestro Leandro Toledo é regente do Coral Sintonia Plena, entre outros
Seu objetivo é levar a música a públicos de todas as idades
Psicóloga, Instrutora Zin e Professora de Dança e Estimulação Cognitiva para pessoas com mais de 50 anos (clique aqui para falar com a colunista)
1 Comentário
Sou aluna de Toninha e seu trabalho é excelente.
Aprendemos muito com ela, com a interação do Grupo, e as nossas lembranças vão ajudando a dos outros.
Lembranças de músicas, anúncios e vivemos uma época aonde a leitura era levada a sério.
Tudo que trabalhamos juntos e juntas tem ajudado no desenvolvimento de nossas lembranças e fortalecimento de nossa memória.
Sem dúvida o trabalho da Psicologia
Toninha Bianco é maravilhoso.
Parabéns.