Estava aqui pensando sobre qual assunto escreveria para as pessoas 60+ que ainda sofrem muitos preconceitos por parte da família e da sociedade, porém, em várias situações, são elas que nos dão uma enorme lição de vida!
A experiência a qual irei relatar foi de extremo aprendizado para mim, não só como profissional, mas, também, como pessoa. Eu sempre relato essa experiência para outros pacientes buscarem inspiração!
Uma lição de vida
Certa vez, recebi 11 mensagem de uma ex-paciente pedindo para que eu atendesse a sua mãe que estava passando por um processo de recuperação de um câncer e gostaria de fazer um trabalho não só psicoterápico, mas, também, terapêutico e de relaxamento. Marquei a consulta com a mãe de minha ex-paciente, que veio acompanhada com suas duas filhas.
Durante a conversa, elas foram falando o que a mãe veio passando com a questão do câncer, pois ela fez uma cirurgia no cérebro, do qual foi tirado um tumor e, segundo as filhas, ela estava enfrentando algumas dificuldades pessoais e emocionais por conta do quadro que ela estava apresentando.
Eu sempre digo que aquela não foi uma sessão de terapia, mas, sim, uma lição de vida grandiosa para mim.
A mãe, já com mais de 70 anos, estava muito calma, lúcida, extremamente articulada, bem humorada e bastante carinhosa e atenciosa. É claro que ela vinha apresentando sequelas, visto a gravidade da situação. Alguns esquecimentos, tomando medicação forte, estava em processo de quimioterapia e radioterapia, o que a debilitava bastante.
Relatou seus problemas familiares, emocionais, principalmente com o marido na relação com as filhas. Mas considerava-se bem casada. Por ser uma pessoa espiritualizada, fazia atividades em centros espíritas e era muito querida pelos amigos da vizinhança, bem como das pessoas do centro no qual trabalhava. Era também uma pessoa que gostava de ajudar a todos com seus aconselhamentos, sempre muito amorosa e ativa.
“Vou enfrentar de cabeça erguida…”
O momento maior veio quando ela se posicionou em relação à doença. E aí vieram os aprendizados…
Em nenhum momento ela se posicionava como vitima, é claro que a doença a abateu inicialmente, mas não se vitimizou. É muito comum as pessoas que desenvolvem um câncer terem medo de morrer, mas, no caso dela, não.
Ela trazia nas palavras uma segurança que nem as filhas tinham. “Se eu tenho que passar por isso, eu vou passar. Ninguém vai passar por mim. Vou enfrentar de cabeça erguida”, afirmava.
Confesso que fiquei muito emocionado. Mesmo ela tendo que enfrentar uma doença tão difícil, estava se fortalecendo para enfrentar o que tinha de ser enfrentado.
Fizemos várias sessões ao longo de alguns meses, tanto a psicoterapia, como a utilização de técnicas de relaxamento (Barras de Acces), e em todas as sessões ela se mostrava alegre, lúcida e em nenhum momento se entregando. Como eu disse, não foram sessões de terapia, mas, sim, de aprendizado.
Após um período de sessões, tivemos que interromper, visto que o quadro dela estava apresentando um agravamento. Quase um ano depois de ter encerrado o período de sessões, ela veio a falecer. Fui ao velório, onde as filhas, mesmo tristes, estavam bem, visto que ela deixou seu legado de alegria e força.
Foto: Image by Freepik
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Psicólogo, palestrante e colunista (CRP: 06/45.396-2) (clique aqui para falar com o colunista)