
Às vezes pensamos em como tratar de alguns temas que consideramos “especiais” ou “difíceis” com as crianças e esquecemos do potencial que a literatura infantil tem neste sentido. Vários teóricos ligados à educação sabem disso e consideram os livros um importante meio simbólico para mudar atitudes.
Quando o assunto é doença, muitos de nós preferem poupar as crianças ou mesmo disfarçar a situação. Para aqueles que não pensam desta forma, sugiro a leitura da excelente obra de Dagmar Muller, traduzida e adaptada por Sâmia Rios e publicada pela Editora Scipione: ‘Minha avó tem Alzheimer’.

Aprender com as mudanças
Nada triste ou piegas, a história começa com uma declaração de amor da neta Paula para a vó Ana: “Adoro minha avó! Mesmo que ela não seja exatamente como as outras avós que eu conheço…” Em seguida, o leitor é convidado a adentrar no complexo universo que se apresenta por unir numa mesma casa a neta, a avó, o pai e a mãe que têm que aprender com as mudanças que a convivência com a demência provoca numa família.
Logo no início, a criança se ressente do comportamento preconceituoso de seus amiguinhos que acham sua avó “completamente doida” e afirma “Esta doença não tem nada a ver com bobeira”.
De maneira didática e ao mesmo tempo poética, a autora escreve num trecho belíssimamente ilustrado, como a doença se processa. Juntas, mãe e filha desenham uma árvore e nela vão colocando os fatos que historicamente aconteceram e foram importantes na vida da avó, de modo que os acontecimentos mais antigos ficam na parte de baixo da árvore e os mais recentes na parte de cima.
Assim, a conversa segue entre as duas e, utilizando a idéia das estações do ano, a mãe pede para a filha: “Imagine agora que seja outono na cabeça dela…” Neste momento somos convidados a compreender que as lembranças que estão há menos tempo lá, facilmente são esquecidas pela avó.
Ao longo da história, a neta segue demonstrando o enorme carinho que sente pela avó, traduzido em beijos, abraços, palavras amorosas, ajuda na hora de se vestir ou despir, compreensão durante os momentos de refeição e a deliciosa hora da leitura na cama.
Lições de vida
Estas verdadeiras lições de vida dadas por uma criança de maneira sensível e pedagógica nos servem de consolo e alento neste mundo repleto de intolerância para com as diferenças. Por tudo isso é importante contar esta história para nossos filhos, netos ou alunos. Quem sabe ao experienciar colocar-se no lugar das personagens passemos a refletir sobre a humanização e a sensibilidade necessárias ao novo cidadão do século XXI.
Afinal, como diz no livro, “Talvez as pessoas se esqueçam que isso pode acontecer com elas algum dia!”.
Boa leitura!
Foto: Image by Freepik
Foto-reprodução capa do livro: Editora Scipione
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Doença de Alzheimer
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Pós-doutora em Gerontologia (USP), Doutora em Educação (UNICAMP) e Docente da Universidade Federal de São João Del-Rei (UFSJ) (clique aqui para falar com a colunista)