PARA SÃO PAULO E PARA QUEM QUISER SABER A HISTÓRIA DE MINHA VIDA!
meu apelido é Nenê, nasci em uma fazenda chamada Limoeiro, que se localiza entre as cidades de São Sebastião e Nazaré de Jacuipe no Estado da Bahia.
Minha mãe feleceu assim que eu nasci, então eu e minha irmã fomos criadas por duas tias que eram irmãs do nosso pai, o nome delas eram Benta e Margarida. Quando eu estava com 3 anos meu pai também faleceu, eu e minha irmã Ester continuamos com as nossas tias e mães, que trabalhavam na roça, serviço pesado para poder nós dar o sustento.
Me puseram na escola e pagavam 2 cruzeiros por mês, só que esse dinheiro fazia falta para comermos em casa. A escola era longe da nossa casa.
Elas nos levavam pela manhã quando iam para o trabalho e, de tarde quando voltavam do trabalho, me pegavam de volta. E assim foi até os meus 14 anos, até que uma família que era muito amiga de minha mãe pediu para que elas me deixassem morar com eles em Salvador.
Minha mãe não queria deixar, mas eu chorei muito para ir para Salvador. E então minha mãe disse que se a família me deixasse estudar, então estaria tudo bem, aí eu fui, mas no fim das contas não havia escola nenhuma, eu tive que ser pagem (cuidar de crianças).
Certo dia conheci uma colega no parquinho, ela também era pagem e estava passando as férias em Salvador. Ela morava em um colégio de freiras aqui em São Paulo, eu pedi para ela que me arrumasse um lugar no colégio e me escrevesse uma carta que eu viria para São Paulo. Dito e feito ela consegui!!!
Eu vim para cá no ano de 1957, trabalhei e estudei até a quarta série ginasial. Voltei a Bahia só uma vez.
Aqui eu trabalhei de auxiliar de limpeza, copeira em uma firma, atendente em uma imobiliaria, aí comprei um terreno e fiz um cômodo e cozinha. O dinheiro não dava para pagar o pedreiro e o servente, por isso eu saí de férias para fazer o serviço de servente.
Trabalhei muito. Fazia massa para o pedreiro acentar os tiijolos, carregava os materias, era serviço pezado mesmo! Um dia peguei um balde de 18 litros cheio de concreto, quando fui descer o balde para o pedreiro, me deu uma dor tão forte na coluna que eu fiquei alí mesmo sem poder nem respirar, me contorcendo de dor na coluna, e daí para cá nunca mais eu tive saúde.
Terminei a construção e fui buscar minhas mães (tias), sabem o que aconteceu? Elas haviam falecido! Então eu me pergunto, adiantou meu sacrificio? Pelo menos eu fiz alguma coisa pensando nelas.
Em 1977 fiz o curso de atendente hospitalar em Pediatria e Berçario, o meu estágio foi na Santa Casa de Santo Amaro. Neste mesmo ano de 1977 tirei minha carta de habilitação classe B, revalidei em 18/07/1985 para classe D, podendo assim dirigir qualquer veículo pesado, carreta, trator e etc. Fiz também curso de corte e costura na escola Lila, sou modista. Faço calça e camisas para homens, faço trico na máquina lanofix, fiz curso também na Lanofix da rua 24 de maio.
Trabalhei, trabalhei e trabalhei, só Deus sabe a minha luta como foi difícil. Nunca tive um amor, na rua em que moro alguns vizinhos me dão as mãos outros me olham pelo canto dos olhos, não sei por que, pois sempre procuro tratar todos bem e respeito.
Agora estou com 71anos de idade, faço trabalho de artesanato as sextas de jornal, pintura e tecido e etc.
Estou fazendo o curso de computação no Telecentro CEU Campo Limpo, adoro a equipe do Telecentro, a Patricia, a Vanessa, o Luiz e o Fred, eles me tratam com tanto carinho e atenção que me dá forças para eu seguir adiante.
Tudo o que eu fiz e sou eu agradeço às minhas mães que foram minhas heroinas e é lógico a você, minha São Paulo, com seus bondes e lampiões de gás, me deu condições de chegar até aqui.Obrigada São Paulo!!!