Pedro Coutinho é responsável por seis cortes de cabelo por dia, de segunda a sábado, em sua barbearia, o Salão Ideal, na avenida Angélica, pertinho da praça Buenos Aires, em Higienópolis (região central da cidade de São Paulo). Aos sábados, dia de salão cheio, ele corta ainda mais.
Essa seria a rotina comum, de uma pessoa comum, não fosse por um curioso detalhe: Pedro tem 95 anos, completados no último dia 27 de junho, o que o coloca na posição de um dos mais velhos trabalhadores em atividade em São Paulo.
O dia do seu Pedro, como é chamado no salão, começa cedo. “Eu acordo às 4h. Lá pelas 6h, venho para cá. Pego o ônibus no metrô Marechal e desço aqui na praça Buenos Aires. Para voltar eu pego o Lapa aqui no ponto, ou então o Casa Verde, que me deixa bem pertinho da minha casa”, diz.
“Ele chega aqui pelo menos umas quatro horas antes de mim”, diz o barbeiro Carlos Roberto Oliveira, 65 anos, que herdou do pai a sociedade com Pedro. “Eu estando trabalhando, eu esqueço da vida, eu esqueço de tudo”, diz Pedro.
À noite, ele volta para casa com sua mulher desde 1947, Dúria Pardo Coutinho, de 81 anos, que vai buscá-lo todos os dias, porque Pedro dorme cedo, por volta de 21h. É também ela quem faz a comida do marido, que leva na hora do almoço, todos os dias, para o barbeiro comer no próprio salão. “Porque ele não come em bar”, explica ela.
Para Pedro, domingo é um problema, porque nesse dia ele não trabalha. “Domingo eu durmo um pouco mais, assisto um pouco de televisão, passo o dia em casa. Mas eu não gosto de domingo, não, viu?”, comenta.
Pais de três filhos, um do primeiro casamento (ficou viúvo) e dois com Dúria, Pedro atende no mesmo endereço há 54 anos, praticamente desde que chegou de São José do Rio Preto. Mas aprendeu a profissão no interior, numa cidade chamada Potirendaba, quando ainda morava no sítio e “puxava enxada” na lavoura de café. “Lá não tinha escola. A gente ficava vendo o barbeiro cortar e aprendia olhando.” Depois de 20 anos cortando o cabelo no interior, a convite de um compadre, aportou em São Paulo. O salão foi mudando de dono até que Pedro e outros colegas assumiram a direção do negócio.
Perguntado sobre por que ele continua na ativa, tantos anos depois de poder se aposentar, ele responde: “Porque eu gosto de trabalhar e eu acho que o trabalho prolonga a vida da gente, viu? Não dá para ficar em casa, não. Aqui, as horas passam, a gente conversa com um, conversa com outro.”
“Tempos difíceis? Só quando os cabelos compridos ficam na moda”, brinca.
Coordenadora de redação e interatividade do Portal Terceira Idade (clique aqui para falar com a colunista)