Ainda vou no céu, em vida, perguntar ao Nosso Senhor se, no dia que eu morrer, posso levar o meu amor…”, canta dona Otília Maria de Jesus, 99 anos, bem baixinho, melodia que ela mesma compôs. Casada com Antônio Xavier de Carvalho, 102 anos, os dois completaram 80 anos de casamento no último dia 9 de novembro.
Numa prova de que paixão e amor podem durar para sempre, dona Otília se encosta nos ombros de Antônio toda vez que ela percebe alguma fala carinhosa do marido. A memória é retomada aos poucos, alguns lapsos surgem, um corrige o outro e o sorriso grande, simultâneo entre os companheiros, vem em seguida.
As famílias de Otília e de Antônio foram morar na colônia de empregados de uma fazenda de café na Vila Elisiário, na região de Catanduva, interior de São Paulo, na década de 20, vindas do Sertão da Bahia.
Foi ali, numa das animadas festas, na época em que os bailes começavam às 18h e, no máximo, até as 21h, já tinham acabado, que Antônio começou a observar Otília. “E não é que eu gostei?”, conta Otília. Não demorou sequer dois meses para que o casamento se realizasse. “E foi uma festança com tanta leitoa assada que eu nunca vi tanta fartura”, relembra Antônio. O casamento não foi realizado na igreja. “Casamos no civil e já estava bom. O importante era que nós tínhamos amor um pelo outro”, afirma Antônio, sem querer dar muitos detalhes da história.
Antonio ainda se lembra da fazenda onde se casaram e onde nasceram seus dois primeiros filhos. “Lá, nós pegamos 5 mil pés de café para cuidar sozinhos. Íamos para o cafezal juntos, logo cedo, quando o sol começava a aparecer no céu”, diz. O costume de acordar ainda de madrugada prevalece até hoje. “E eu lá sou mulher de acordar às 11h? Nessa hora já até almocei”, orgulha-se Otília.
A comemoração dos 80 anos de casados foi bem simples, com um almoço para os que moram mais perto. Com tantos descendentes, fica impossível conciliar uma data para reunir toda a família. “Durante a vida toda, eles foram bem-humorados e nunca levantaram a mão para nenhum dos filhos. Foram enérgicos quando necessário e conseguiram passar a todos como é importante ter uma família”, diz Evando Xavier de Carvalho, 59 anos, um dos filhos.
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