Quem já não se pegou pensando: “Aquela casa de shows ao lado do prédio onde moro não me deixa dormir… Será que ninguém vai chamar a polícia?…”, ou “São tão poucos médicos no posto de saúde aqui do bairro… Será que ninguém vai reclamar?…”
Bem, Aparecida Canhadas Bacheschi, de 81 anos, é o tipo de pessoa que põe seus pensamentos em prática. Dona Cidinha, como é conhecida, enfrenta políticos, juízes, empresários e até bandidos para conseguir o que almeja para seu bairro, a Vila Romana, na zona oeste de São Paulo. E tem orgulho do outro apelido que ganhou de vizinhos: a rainha dos abaixo-assinados.
Ela perdeu a conta de quantas folhas já xerocou, quantas assinaturas já recolheu e em quantas portas já bateu para pedir apoio para suas causas.
O esforço que valeu a pena
A Unidade Básica de Saúde (UBS) da Rua Vespasiano estava sem médicos e os moradores pediram a sua ajuda: queriam saber como poderiam reivindicar mais funcionários. Ela fez a lista, deu uma cópia a cada um deles. Mais de 3,5 mil pessoas assinaram e, quando o calhamaço de páginas foi entregue à Prefeitura, a resposta foi apenas um protocolo. “Não adianta só recolher as assinaturas. É preciso ir atrás e ficar cobrando alguma atitude”. No caso da UBS, dona Cidinha ameaçou fazer um panelaço no Viaduto do Chá. “Não passaram nem 15 dias e vieram oito médicos”, conta, com orgulho.
Para fechar a casa de shows Sampa Hall, que funcionava no antigo Olímpia, dona Cidinha apelou para o prefeito, o governador e até para o presidente. “Fiquei conhecida até na polícia”, gaba-se.
Personalidade combativa desde a infância
Segundo ela, sua personalidade combativa já se manifestava na infância, quando assumiu o posto de tesoureira de uma igreja de São Simão, cidade a 300 quilômetros da capital. Ela era considerada “muito atrevida” pelo padre, que queria excomungá-la. Aos 18 anos, ela se mudou para São Paulo com a mãe e um irmão, onde se casou, aos 21 anos.
Após a morte de seu marido, em 1976, um episódio envolvendo pichadores em seu bairro foi o gatilho para construir seu “reinado” de laudas e assinaturas. Foram mais de 5 mil assinaturas na primeira tentativa. O abaixo-assinado rendeu reportagem de TV e a função de organizar palestras em escolas da região.
Depois da primeira lista, a fama correu o bairro e dona Cidinha foi convidada a fazer abaixo-assinados para os mais diferentes assuntos. “Quando minha mãe optou por essas ações, ela optou pela vida. Os abaixo-assinados mantêm sua mente viva, a obrigam a caminhar e, assim, ela fica longe de uma série de situações que a velhice pode trazer”, afirma Ângela Bacheschi, de 55 anos, uma das filhas
Coordenadora da Campanha “Seja um Cuidador Voluntário” do Portal Terceira Idade (clique aqui para falar com a colunista)