Ainda criança, Maria das Dores Pankararu se mudou para São Paulo quando a família fugia da seca e buscava emprego. Estudou até a sétima série e voltou com seus pais para sua aldeia.
Não foi tão simples chegar ao topo da carreira. Os primeiros passos, e os mais difíceis, foram dados quando ainda criança, quando andava a pé por uma hora e meia por morros e trilhas até chegar à escola mais próxima de sua aldeia, no município de Tacaratu (no sertão de Pernambuco).
Apesar de ter vivido na maior cidade brasileira, Maria conta que ela só “descortinou o mundo” quando voltou a estudar na pequena cidade de Tacaratu. Apesar de sua família sempre a proteger muito, ela teve que estudar sozinha. Teve que ter coragem para continuar na escola porque muitos tinham aquela visão de que os índios são ‘bêbados, vagabundos”.
Após se formar no ensino fundamental e médio, Maria passou no vestibular do curso de História de uma pequena faculdade próxima de Tacaratu. Em seguida, fez outro curso de graduação, Pedagogia, porém foi mais longe, tentou e passou no vestibular da Universidade Federal de Alagoas.
Durante sua vida acadêmica na universidade, Maria sofreu muitas vezes com o mesmo preconceito que enfrentou em Tacaratu. No seu curso de mestrado, um professor chegou a repetir em aula, sem saber que ela era índia, as mesmas falsas generalizações sobre os indígenas. Ela protestou, mas ninguém ousou se posicionar a respeito.
Em sua trajetória universitária, ela encontrou apoio de suas orientadoras Januacele de Costa e Adair Palácio.
A oferta de bolsas também foi fundamental. No mestrado ganhou a bolsa da Fundação de Amparo à Pesquisa de Alagoas e no doutorado a ajuda foi da Fundação Ford, fundamental para que ela pudesse viajar com freqüência para a aldeia ofayé para realizar sua pesquisa.
Durante seu doutorado, Maria pesquisou a língua indígena Ofayé. Ela hoje é falada por onze pessoas de sua comunidade, de Brasilândia (MS), e está em risco de extinção. Seu trabalho, em parceria com a professora Marilda de Souza, foi fazer uma cartilha para ensinar às crianças da comunidade o idioma e criar uma correlação entre a língua oral e a escrita para facilitar o aprendizado.
Essa cartilha pode significar para os ofayé o resgate de uma língua. Tentativas anteriores de ensiná-la para a geração mais jovem tiveram pouco êxito. Dessa vez, no entanto, o projeto partiu de uma índia para índios.
Coordenadora Geral do Portal Terceira Idade, Pesquisadora do Envelhecimento, Pedagoga e Jornalista (API, Assoc. Paulista de Imprensa: Reg. 2152) (clique aqui para falar com a colunista)