Em 2007 chega ao mercado de trabalho a primeira geração sem a memória dos tempos da inflação. São jovens que tem em torno de 25 anos e estão saindo das universidades. Eles tinham 12 anos, em 1994, quando foi criada a moeda Real.
A inflação (aumento geral de preços) a que nos referimos aqui não é a de hoje, com precisão de duas casas após a virgula. É a inflação de dois dígitos por mês e de quatro dígitos por ano e que, em 1993, chegou em 2.700%.
A vida nesse nível de inflação era caótica e perversa. Caótica porque o processo de previsão era quase inexistente, exemplo: um bom salário, reajustado em cada bimestre, se apresentava com pouco valor e um aluguel alto, com reajuste semestral, era excelente negócio para o inquilino.
Perversa porque quem mais perde era a parte mais fraca: o trabalhador sem condições de negociar, o cidadão sem conta no banco que não tem como proteger seu dinheiro da desvalorização diária da moeda. Ganhava com a inflação quem tinha poder para antecipar receitas (total de renda mensal) ou atrasar pagamentos.
Com a implantação do Real em 1994, colocou-se um fim ao período de pacotes econômicos, que começou com o Cruzado em 1986. Mas a importância dada à estabilidade econômica tinha um custo, o fraco crescimento do país, que não gerava empregos necessários para esses jovens. Os críticos em geral se focavam na falta de reforma complementares que permitiriam uma política monetária menos restritiva.
Mas a inflação não está esquecida, sempre tem alguém sugerindo um pouco de inflação em troca de mais crescimento, pois, segundo os interesses, não faria tanto mal assim.
O argumento tem perdido força, mas a tentação está sempre no ar. “A história da moeda revela duas tendências altamente seguras: após uma experiência recente com inflação, as pessoas preferem preços baixos e, tendo longa experiência com preços estáveis, tornam-se indiferentes ao risco de inflação”, afirmou o economista John Kenneth Galbraith, falecido há um ano.
Assim, se passaram anos de moedas transitórias. A verdade é que, pelos padrões internacionais, as moedas brasileiras nunca foram duradouras. A primeira moeda brasileira foi o “açúcar”, que em 1614 passou a valer como dinheiro, por ordem do governador Constantino Menelau. Na época o reduzido comércio interno era feito na base de trocas.
Só em 1911, em plena República, é que o dinheiro brasileiro registrou sua primeira alta no mercado internacional. Em 1942 foi introduzido o Cruzeiro, primeira moeda brasileira moderna, após longo período dos Mil-Réis.
O cruzeiro durou sem reformas até 1967, quando, em 1970, o regime militar cortou três zeros das notas e a moeda passou a se chamar Cruzeiro Novo (valendo mil vezes o antigo).
Em 1970, voltou a ser apenas Cruzeiro, em 1986 surge o Cruzado, em 1989, o Cruzado Novo, em 1990 (no Plano Collor) volta o Cruzeiro, em 1993, o Cruzeiro Real e, finalmente em 1994, o Real.
Depois de tantos séculos de inflação, quantas gramas (ou kilos) de açúcar teríamos que pagar por um cafézinho, hoje em dia, se ainda o estivéssemos usando como moeda?
Coordenadora Geral do Portal Terceira Idade, Pesquisadora do Envelhecimento, Pedagoga e Jornalista (API, Assoc. Paulista de Imprensa: Reg. 2152) (clique aqui para falar com a colunista)