De acordo com o 1º Levantamento Nacional de Padrões de Consumo de Álcool, o consumo do mesmo no país têm se iniciado mais cedo. A pesquisa foi elaborada pela Unifesp em parceria com a Senad (Secretaria Nacional Antidrogas), entre novembro de 2005 e abril de 2006.
Os dados indicam que 63% dos jovens de 18 a 24 anos consomem mais de três doses em um dia. Entre os que têm de 25 a 34 anos, o índice cai para 55% e continua em queda conforme a idade avança. “Provavelmente isso é uma tendência que vem acontecendo há muito tempo, de geração em geração”, diz a psicóloga Ilana Pinsky, uma das responsáveis pela pesquisa.
Um exemplo é Rafael, 15 anos, que provou bebida alcoólica oferecida pelos pais aos nove anos, e começou a beber com regularidade aos 12. O caso de Rafael não é exceção. Os especialistas já detectaram que os adolescentes brasileiros começam a beber cedo e muitos bebem de forma abusiva.
“Em grande quantidade, o álcool desinibe, diminui a atenção e provoca a perda dos reflexos, deixando os jovens expostos a doenças sexualmente transmissíveis e a acidentes de carros”, diz a psiquiatra Ana Cecília Marques, pesquisadora da Unidade de Álcool e Drogas (UNIAD) da Unifesp.
Segundo o toxicologista Anthony Wong, da USP, “a adolescência é a fase em que o cérebro tem mais condições fisiológicas de receber e processar informações. O excesso de álcool dificulta o processo de aprendizagem. Isso pode resultar num adulto com menos habilidades intelectuais”.
“O alcoolismo é uma doença que pode ocorrer em qualquer etapa da vida. Hoje, 3% dos alcoólatras tem acima de 65 anos”, segundo o Dr. Camilo Verruno, diretor do Programa Nacional de Controle do Uso Indevido do Álcool (CUIDA) e secretário da Comissão Nacional do Alcoolismo.
Existem duas formas de alcoolismo. A primeira é a dependência física que as pessoas adultas atingem depois de 10, 15 ou 20 anos bebendo de forma constante, porém se alimentam de forma regular, o que permite a “sobrevida”. A segunda é o caso dos abusadores, que é a mais comum. São os alcoólatras com uma má situação sócio-econômica, que vivem sozinhos e que recorrem ao álcool (geralmente de má qualidade) para obter o efeito da droga e, assim, “escapar de uma realidade que não podem assumir”, explica o especialista.
Dr. Camilo afirma que as conseqüências a longo prazo do consumo de álcool são muitas, afetando o organismo de diversas formas: nutricional, favorecendo a aparição de anemias, lesões cutâneas, diarréia e depressão, gastrintestinais, que afetam o esôfago, o estômago, o fígado e o pâncreas e também complicações cardiovasculares, sendo as principais arritmia, insuficiência cardíaca, hipertensão arterial e arteriosclerose.
Como conseqüências neurológicas, podem ser destacadas: confusão, coordenação reduzida, limitação da memória de curto prazo, deterioração dos nervos que controlam os movimentos dos braços e das pernas, psicose e acidentes cerebrovasculares.
O alcoolismo, em qualquer idade, é uma doença tanto psicológica como física, que interfere na capacidade de se relacionar e trabalhar, podendo gerar, também, um grande número de condutas autodestrutivas.
Coordenadora de redação e interatividade do Portal Terceira Idade (clique aqui para falar com a colunista)