Em 31 de dezembro de 1907 nascia Mario da Silva Meirelles Reis, mais conhecido por Mario Reis, no Rio Comprido, zona norte do Rio de Janeiro.
Mario foi criado por uma família da elite carioca, dona da Fábrica Bangu de Tecidos (seu pai havia morrido quando ele tinha apenas 18 anos, em 1925). Três anos depois, em 1928, época em que os primeiros microfones começavam a ser utilizados no Brasil, fez suas primeiras gravações: “Que Vale a Nota sem o Carinho da Mulher”, “Jura” e outras. Ele foi o primeiro a gravar Ary Barroso: “Vou à Penha”. De sua formação em direito surgiu seu merecido título de “bacharel do samba”.
Sua aproximação com Francisco Alves se deu em 1930, quando em duo com ele, gravou sucessos como “Se Você Jurar”. Em 1932, deixou a gravadora Odeon e foi para a Victor, onde gravou com Carmen Miranda “Alô?… Alô?”, “Chegou a Hora da Fogueira”, e outras.
“Mario e Carmen Miranda são os dois inventores do canto brasileiro. Como Mario começou em 28, e Carmen, em 30, a primazia pode ficar com Mario, mas, nos primeiros sucessos, como “Jura” e “Gosto que me Enrosco”, ele ainda está inseguro, próximo dos cantores anteriores, como Bahiano. Ainda não é o que seria a partir dos duos com Francisco Alves, quando, até por contraponto, impôs seu charme. Já Carmen era, desde o começo, Carmen Miranda”, afirma o jornalista e pesquisador Ruy Castro.
Já para o cineasta Julio Bressane, amigo do cantor em seus últimos 15 anos e que o homenageou no filme “O Mandarim” (1995), Mario Reis é tido como um intérprete revolucionário. “Imagine alguém daquela época ouvindo as primeiras gravações do Mario, uma antivoz. A pessoa sairia correndo. Era transformador. O sistema do Mario se espalhou para muito além dele”, opina o cineasta.
Maria Bethânia se lembra de ouvi-lo no rádio de casa, em Santo Amaro da Purificação (BA). “Minha mãe sempre foi apaixonada por ele, e eu o tenho dentro do ouvido. É uma das raízes de João Gilberto, sem dúvida”, comenta.
De acordo com amigos, Mario Reis era muito autocrítico, o que foi, talvez, um dos motivos que o fizeram largar a carrreira enquanto ainda fazia sucesso, em 1936, aos 29 anos. Mas ele nunca se afastou totalmente da música, fez breves voltas em 1939, 1951, 1960 e 1965. Em 1971, Mario gravou seu último disco, “Mario Reis”, ano em que também fez três shows no Golden Room do Copacabana Palace.
Seu jeito de ser criou uma mística em torno dele. Jovem e rico, Mario tornava-se cada vez menos sociável, freqüentando apenas lugares de elite como o Country Club e a sede social do Jockey Club.
Morou na suíte 140 do Copacabana Palace, de 1957 até sua morte, devido a um aneurisma abdominal e complicações operatórias em 5 de outubro de 1981. O dinheiro tinha acabado havia muito tempo, mas a elegância permanecia.
“Eu ouvia Orlando Silva, Sílvio Caldas, Cyro Monteiro, Moreira da Silva, mas percebia que Mario soava diferente. Era aquela voz sem vibrato, transmitia algo delicado e, ao mesmo tempo, forte. Há influências que não são diretas, mas certamente estão na gente”, afirma Paulinho da Viola.

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