Recebi recentemente um e-mail muito importante e ao mesmo tempo alarmante de uma de nossas internautas, relatando o descaso para com uma senhora de 82 anos que sofreu uma grave queda em frente ao Centro de Referência do Idoso, na Zona Norte de São Paulo.
O e-email foi enviado por Dna. Anisia Spezia. Ela tem 62 anos e mora na Zona Norte da cidade.
Bem, vou colocar seu e-mail nesta matéria para que você, internauta do Portal, possa entender melhor o que aconteceu:
E-mail – Portal Terceira Idade* |
De: spezia@ig.com.br [Anisia Spezia] Para: tony@portalterceiraidade.org.br Enviado: Quarta-feira, 26 de Novembro de 2008, 11:41h Assunto: Cuidadores |
Ontem, ao sair do CRI (Centro de Referência do Idoso) Ambulatórios Médicos e Laboratórios da Secretaria do Estado de Saúde – SP (Zona Norte, Rua Voluntários da Patria, São Paulo, SP), em convênio com a Associação Congregação Santa Catarina, dentro do complexo Hospitalar do Mandaqui-SP, presenciei uma queda violenta em uma das rampas de uma senhora de 82 anos, Dona Cinyra, que disse ter sentido uma tontura e caiu, sendo, segundo ela, essas quedas muito freqüentes em sua vida.
Perguntei por seu (sua) acompanhante, e ela informou ter ido só, à sua consulta. Estava muito ferida, com hematomas, e sangrando. Procurei ajuda, ninguém do complexo hospitalar poderia ajudar, falei com segurança, funcionários, e siquer uma cadeira de rodas foi disponibilizada para levá-la ao Pronto Socorro para onde foi-me sugerido que a levasse. Uma outra senhora (mais jovem) Dona Fátima, se prontificou a ajudar-me a levar Dona Cinyra ao PS do Mandaqui. Ela foi caminhando, lentamente, com dificuldade, até o PS onde, depois de um RX que foi constatado não ter fraturas e um curativo nos ferimentos, foi dispensada para voltar para casa. Sózinha? Argumentei. Um médico disse-me que nós (eu e a Fátima) já tinhamos prestado socorro a Sra. e que outra alma caridosa deveria dali pra frente fazer com que ela chegasse à sua casa. Alma caridosa? Onde? ali é um Pronto Socorro, pessoas estão acompanhando familiar ou sendo socorridas…..A Fátima, caridosamente, se encarregou de levar Dona Cinyra até sua casa, onde ela iria ficar só, e com as dores da queda. Isso mecheu muito comigo, tenho 62 anos, caminho bem, sou viuva mas posso contar com a assistência de minhas 3 filhas. Mas fiquei imaginando o número de idosos desamparados, tendo que procurar auxilio médico sozinhos, moram sosinhos, outros com a companhia do conjuge também idoso. Tony, a mídia mostra apenas os idosos que tem atividade, nadam, usam a internet, viajam, praticam esportes, etc. Mas e os que estão fracos, como Dona Cinyra, que vivem só, não enxergam bem, não ouvem quase nada? E os que dependem de parentes que os maltratam? Um caso foi divulgado porque alguém filmou uma violência ao Idoso. E quantos não sofrem? Descaso, violência, solidão, carência de afeto… Esses VELHOS precisam com URGÊNCIA de alguém que comece a olhar por eles. Tirá-los do abandono. Uma criança presa em casa para a mãe trabalhar, é ABANDONO DE INCAPAZ. E o velho? A velha? Eu digo VELHA/VELHO, porque idoso é aquele que está muito bem física e mentalmente, idoso porque viveu muito e não se sente velho. Você, Tony, poderia ajudar muito, sensibilizando Orgs, Ongs, e o Poder Público a se interessar mais por esses desamparados, abandonados ou mal cuidados. Vamos mostrar também aqueles que contribuiram muito para essa sociedade e agora estão esquecidos. Pesquisem, porque eu creio que são muitos. Que tal CUIDADORES VOLUNTÁRIOS? Ou alguma Org ou Ong, contribuir para que tenham companhia de algumas horas de pessoas com Boa Vontade? Agora é Natal! Muitos estão pensando em levar crianças de abrigo para suas casas para passar o Natal. Que tal um velho, ou velha? Pensou nisso? Eu estou a sua disposição. Pode contar comigo. Anisia Spezia |
Acredito que todos os leitores do Portal possam vir a pensar e questionar este fato tão triste que ocorreu, e com certeza nos mobilizarmos para sermos Anjos da Guarda e Cuidadores Voluntários.
Todos nós temos um vizinho, um amigo, um parente, ou mesmo alguém que não conheçemos e que precisa de nossa ajuda. Que tal doarmos algumas horas do nosso dia para quem precisa?
Claro que esta atitude não isenta os órgãos púbilcos de reverem sua postura e necessidade de atendimento para os idosos que não tem a quem recorrer. Todos nós somos cidadãos e temos direito a este auxílio público e devemos lutar por isso.
Mas também, enquanto as coisas não mudam, e infelizmente não vão mudar tão cedo, cada um de nós pode ser um agente social transformador. O item mais importante e necessário para mudarmos a nossa sociedade é termos consciência da realidade em que vivemos e solidariedade para com o próximo.
Se você também possui algum relato ou sugestão, mande um e-mail para o Portal e nós o divulgaremos.
Coordenadora Geral do Portal Terceira Idade, Pesquisadora do Envelhecimento, Pedagoga e Jornalista (API, Assoc. Paulista de Imprensa: Reg. 2152) (clique aqui para falar com a colunista)