Conheci, recentemente, Zip. Soube que ele já está com 98 anos. Num primeiro momento, achei Zip uma figura mal-encarada e rabugenta. Percebi que ele sentia algumas dores musculares e que não estava enxergando muito bem.
Tentei puxar conversa de várias maneiras, quis agradá-lo, chamei-o para um passeio, mas nada acontecia, ele continuava arisco, sempre me observando. Mesmo assim, pude sentir que Zip tinha um bom coração.
Comecei a refletir sobre sua idade, e que talvez, após tantos anos de vida, ele tinha o direito de ser mais reservado.
Passei a visitá-lo diariamente e, aos poucos, ele começou a se abrir mais, mudando sua feição para um rosto mais manso, porém observador e cauteloso. Após algum tempo, consegui estabelecer uma relação de amizade, claro, respeitando seus limites.
Curiosamente, mesmo tendo uma sensação inicial de antipatia e mal-estar com seu jeito tão arisco e introvertido, percebi que ele havia adquirido uma sabedoria natural ao longo dos anos.
Pensei: “Talvez uma amizade ou uma relação sincera e de confiança realmente não possa acontecer em 24 horas ou em apenas alguns dias, mas, sim, ao longo de um período de convivência”. Também comecei a entender e aceitar melhor a ideia de respeitar o tempo e os limites do outro.
Quem sabe, se todos nós agíssemos com mais sinceridade, viveríamos em um mundo com menos “mal-entendidos”, em nosso dia a dia.
PS: Zip é um cãozinho que está com 14 anos, o que equivaleria a 98 anos para um ser humano.
Coordenadora Geral do Portal Terceira Idade, Pesquisadora do Envelhecimento, Pedagoga e Jornalista (API, Assoc. Paulista de Imprensa: Reg. 2152) (clique aqui para falar com a colunista)