Uma cena típica de nossos dias: um casal, filhos, cachorros, já é final do dia; todos estão cansados, as crianças com fome, o jantar por fazer e o jornal das oito já está para começar; logo depois vem a novela e o jogo de futebol; toda a família come apressada, às vezes até já estão na frente da televisão; as crianças querem ir logo para a internet ver seu Orkut, o Facebook ou jogar videogame; o tempo passa voando e logo é hora de ir pra cama… Ufa, que rotina louca!
De repente, você percebe que mal conversou com seus filhos ou mesmo com seu marido ou sua esposa, mas tudo bem, talvez amanhã ou depois dê para bater um papinho. Assim passam os dias, semanas, e os capítulos da novela…
Mas será que você nunca ouviu seu filho ou filha ainda pequenos pedindo: “Mamãe, papai, vocês me contam uma história pra eu dormir?” Aí vem aquela sensação de vazio… “História? Puxa, por onde eu começo? Faz tanto tempo que eu não ouço ou não conto uma história! Não dá tempo nem de conversar em casa!” Caímos, então, no mundo real. Percebemos que não sabemos mais nem contar a nossa própria história: o que fizemos durante o dia ou o que os nossos filhos aprenderam na escola.
Para alívio e contentamento das crianças – e dos pais, também – ainda existem pessoas muito interessantes e até lúdicas para os dias de hoje: os contadores de histórias. Cristina Paoliello (foto) é uma delas.
Pessoa intensa, Cristina é cheia de vida e de histórias para contar, não só para as crianças, mas para os adultos e os mais velhos também. “Contar histórias, para mim, é uma arte e uma opção de vida. Sei que, através das histórias, posso resgatar a criança que existe em cada adulto e trazer o lúdico e a criatividade para todas as crianças”, explica.
Professora de literatura formada pela UNESP, hoje, aposentada, Cristina vem contando histórias há mais de vinte anos. Começou quando ainda dava aula em escolas públicas. Ela percebeu que, contando histórias, conseguia ensinar muito mais, levando seus alunos a entrar em um mundo cheio de fantasias e criatividade. Um mundo onde um boneco feito de papel e cola se transforma em um sapo ou um príncipe, tudo dentro de uma simples sala de aula.
Desde então, ela nunca mais parou de contar e ouvir histórias, seja em hospitais, asilos, shopping centers, ou para seus netos. “Acredito que, contando histórias, posso ajudar de alguma maneira a tornar nosso mundo melhor, pois as pessoas ficam mais felizes. Elas voltam a sonhar e interagir umas com as outras”, enfatiza.
Hoje, Cristina participa do grupo de contadores de histórias da Associação Viva e Deixe Viver, além de sair por este mundo afora, contando com muita alegria e criatividade histórias infantis, contos e mitos.
Para quem quiser enveredar nesse maravilhoso mundo da contação de histórias, Cristina sugere um ritual que ela pratica há vários anos: “Antes de começar a contar uma história, eu acendo uma vela para reverenciar todos os contadores de histórias. Os de ontem, de hoje e os de amanhã”.
Jornalista pela Unimar (Universidade de Marília) e autora do livro ‘Vivendo’ (clique aqui para falar com a colunista)