Desde o tempo que o homem primitivo desceu das árvores, há milhares de anos, e “evoluiu”, adquiriu uma série de qualidades. E defeitos… Um deles – talvez o pior –, o preconceito. Da cor da pele à religião, de preferências políticas à escolha do time de futebol, gordos, magros, pobres, velhos, enfim, não faltam motivos para o “homo sapiens” ter preconceitos. E um dos mais tristes e injustos na sociedade atual é o preconceito contra os homossexuais.
Este ganha um caráter duplamente preocupante quando se trata da homossexualidade na 3ª idade. Sim, o homossexual também envelhece…
No último Congresso Brasileiro de Geriatria e Gerontologia, realizado entre 29 de abril e 3 de maio de 2014, no Pará, a psiquiatra Carmita Abdo, professora da USP (Universidade de São Paulo), divulgou dados de uma pesquisa mostrando que o preconceito e o descaso que atingem os idosos brasileiros se tornam ainda mais graves no caso dos homossexuais.
Isso implicaria, segundo a especialista, em índices mais elevados de depressão nesse grupo: enquanto a estimativa de depressão entre idosos heterossexuais (homens e mulheres) é de 13,5%, entre as lésbicas esse número sobre para 24% e, entre os gays, chega a 30%.
“Saindo do armário”
Quando Luiz Mott (foto) era adolescente, nos anos 1960, ouviu de um professor de história que o Império Romano tinha caído por causa da homossexualidade de imperadores cruéis e devassos. Na mesma época, disseram-lhe, também, que todo homossexual estaria condenado à solidão na velhice, “vegetando sozinho e abandonado, em um quartinho sombrio de uma pensão de quinta categoria”.
Hoje, após 30 anos de homossexualidade assumida e aos 68 de idade, o antropólogo Luiz Mott acredita que esses antigos ensinamentos tinham por propósito apenas assustar os jovens tentados a “sair do armário” (assumir a homossexualidade). Mestre pela Universidade de Paris-Sorbonne e professor aposentado da Universidade Federal da Bahia, Mott vive uma união homoafetiva há dez anos e garante que está lidando muito bem com o envelhecimento.
“Voltando para o armário”
Não se pode negar, porém, que os homossexuais ainda enfrentam um ambiente que lhes impõe muitos obstáculos a uma velhice tranquila e digna. “É evidente que a homofobia traz grandes conflitos internos e externos, que acabam por afastar as pessoas”, diz Ricardo Aguieiras.
Segundo o escritor, muitos idosos e idosas LGBTT (Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis e Transexuais) são obrigados a “voltar para o armário” quando envelhecem, pois precisam receber cuidados de pessoas homofóbicas. “Basta ligar para vários asilos e casas de repouso do país e perguntar se lá existe algum gay, lésbica ou travesti idoso morando. A resposta será sempre ‘não’”, afirma.
Estatuto do Idoso
Um projeto de lei – 7524/2014 –, elaborado pelo deputado federal pelo PSOL/RJ, Jean Wyllys, atualmente aguardando designação de relator na Comissão de Direitos Humanos e Minorias da Câmara dos Deputados, altera ligeiramente o texto do Estatuto de Idoso para garantir que as entidades que desenvolvam programas de institucionalização de longa permanência aos idosos – como as casas de repouso, por exemplo – exerçam suas funções “de modo a preservar a dignidade dessas pessoas, respeitando-as independentemente de orientação sexual ou identidade de gênero”.
Vamos torcer para que a próxima evolução do homem – um “homo um pouco mais sapiens” – venha sem preconceitos…
Coordenadora de redação e interatividade do Portal Terceira Idade (clique aqui para falar com a colunista)