Uma história de superação

Me veio à lembrança um fato acontecido em 1977. Eu trabalhava num banco e fazia faculdade de Direito à noite.

Na época não havia Enem, o vestibular era chamado de Unificado e cada estado fazia o seu. No Rio de Janeiro, o lugar escolhido para as provas era o Maracanã que, antes das reformas, tinha capacidade para até 300 mil pessoas.

Tinha feito o vestibular e, graças a Deus, fui classificado para uma universidade federal. Em 1977, já estava no terceiro período da Faculdade Nacional de Direito da UFRJ.

Garra e determinação

Num dos tempos vagos, levantou-se uma grande discussão, tendo como alvo um colega de classe de 68 anos, não por conta da sua Idade, mas, sim, porque ele era um Coronel Médico Reformado do Exército.

O motivo da discussão era a sua condição socioeconômica: segundo alguns, ele estaria ali tirando a vaga de outros alunos, que ele poderia pagar uma universidade particular.

Nós sempre conversávamos e eu sabia um pouco da sua trajetória de vida. Ele tinha 3 filhos, dois formados e muito bem sucedidos e um terceiro, o caçula, que vivia às suas custas e não queria nada da vida. Meu colega de classe queria provar pra esse seu filho que, mesmo com a sua idade, era possível fazer uma nova faculdade à noite.

Na discussão acalorada em sala de aula, eu saí em sua defesa: “Vocês estão esquecendo que ele cumpriu todas etapas como qualquer um de nós, ele fez todas as provas, sentou nas mesmas cadeiras do Maracanã, onde eu e vocês sentamos, portanto ele tem todo o direito de estar aqui fazendo o curso. A sua condição socioeconômica não o difere de nenhum de nós!”.

Conclusão: por questões pessoais, eu não concluí a faculdade, deixando curso no oitavo período, mas ele concluiu com méritos. Estive na sua colação de grau e tive o prazer de vê-lo formado Bacharel em Direito aos 73 anos de idade.

Senti o desejo de compartilhar essa lembrança de garra e determinação que tive a honra de presenciar.

Foto: Paulo Danilo Vieira (arquivo pessoal); Image by wirestock on Freepik

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