Interrompemos nossa programação normal para um noticiário urgente: Londres e Nova York estão entre as cidades costeiras do mundo que acabam de ser submersas pelo mar. Todo o litoral brasileiro está em estado de alerta. Rio de Janeiro e Salvador já estão parcialmente cobertas pelas águas. A previsão do tempo para hoje é de mínima de 39º e máxima de 45º no Sul do país.”
Calma, isso não foi noticiado na TV hoje, mas, provavelmente (e com grau de probabilidade 90%), isso é o que você (ou seus netos) vão ouvir nos noticiários em 2100.
No dia 2 de fevereiro de 2006, o IPCC (Intergovernmental Panel on Climate Change, ou Painel Intergovernamental sobre Mudança Climática), órgão criado pela ONU, divulgou a primeira parte do quarto relatório de avaliação da saúde da atmosfera, intitulado “Mudança Climática 2007: A Base da Ciência Física”, também conhecido no mundo científico pela sigla AR4, o qual congregou 600 especialistas de 40 países para redigir o relatório divulgado em Paris.
A proposta do IPCC não é pesquisar se está ou não havendo aquecimento global, isto com certeza é um ponto inquestionável. Seu objetivo, sim, é o de descobrir a causa deste aquecimento, se ele se dá devido a “causas naturais” (como muitos governos e cientistas ligados à grandes empresas de petróleo insistem em defender), ou se a causa somos nós, humanos.
E o que o AR4 confirma, infelizmente, é o que o mundo ceticamente tem negado desde 1990, ano do primeiro relatório divulgado pelo IPCC: a culpa do aquecimento global é nossa, com 90% de certeza (em 2001, no relatório anterior, a avaliação da causa do aquecimento global como sendo humana era apenas “provável”, com grau de certeza de 66%).
É comum ouvir de pessoas com mais de 50 anos, especialmente do Sul e Sudeste, a observação de que não faz mais frio como antigamente. Essa percepção é correta. As temperaturas estão subindo em todo país: já aumentaram de 0,6º C a 0,7º C nos últimos 50 anos. E a previsão do IPCC é de que a temperatura da atmosfera na Terra suba em até 4º C até o final deste século.
A imensa geleira sobre a Groenlândia pode desaparecer em alguns milênios, como há 125 mil anos, elevando os mares em 7 m. Onze dos últimos 12 anos foram os mais quentes jamais registrados desde 1850. Nada de semelhante aconteceu nos últimos 650 mil anos.
Deve-se enfatizar que não é mais possível reverter completamente o aumento do aquecimento global. Os gases de efeito estufa em excesso continuarão aquecendo a baixa atmosfera e superfície terrestre por séculos. Mesmo se os níveis de gás carbônico sejam estabilizados em 2100 (para isso, a humanidade teria de cortar pela metade a emissão de gás carbônico prevista para esse século), os mares subiriam mais 80 cm até 2300, e a taxas menores pelos próximos milênios.
Caberá aos governos (do 1º mundo, principalmente) a responsabilidade pelo mundo que estão deixando de herança para nossos filhos e netos.
Mas ainda há tempo? Sim, ainda há tempo para tentarmos evitar que nossos netos não venham a nos dizer um dia, num futuro não tão distante, enquanto assistem a um filme com imagens de uma linda praia com céu azul em Recife: “Olha, vô, vem ver, tá passando um filme de ficção científica na TV…”
Coordenador de Webdesign e TI do Portal Terceira Idade, Jornalista e Publicitário (API, Assoc. Paulista de Imprensa: Reg. 2150) (clique aqui para falar com o colunista)