Após 40 anos de espera, Doris Lessing (foto), 87 anos, recebe da Academia Sueca o prêmio Nobel de Literatura de 2007, tornando-se, assim, a pessoa mais idosa a receber o prêmio em literatura e a 11ª mulher a ser agraciada com o Nobel.
Filha de britânicos, Doris Lessing nasceu na Pérsia, atual Irã, e cresceu na Rodésia do Sul (antiga colônia britânica que conquistou a independência em 1980 e mudou de nome para Zimbábue), na África, onde viveu até 1949.
Lessing, teve uma formação intelectual autodidata. Aos sete anos, foi enviada para um internato feminino e, antes dos 14, interrompeu sua educação formal, trabalhando em seguida como babá, telefonista, estenógrafa (técnica de escrita que utiliza palavras abreviadas de maneira especial e rápida) e jornalista.
Escritora de leitorado pequeno em relação ao sucesso de crítica e grande número de obras publicadas (cerca de 50 títulos), teve uma vida voltada para as questões sociais como o racismo e exerceu militância comunista e antinuclear, mas Lessing alcançou notoriedade sobretudo em sua abordagem da emancipação da mulher, viés de sua obra intimamente ligado à sua vida.
Ela foi capaz de grandes sacrifícios por sua carreira, até mesmo o de ter abandonado o marido e os filhos na África e partir para Londres. Mãe de dois filhos, certa vez declarou que as mulheres da geração de sua mãe viram suas vidas parar após a maternidade. “Algumas delas ficaram bem neuróticas”, comentou a escritora.
Lessing promoveu um mergulho na mente de seus personagens que beira a dissolução dos sentidos, da loucura e de uma espécie de experiência mística que “salvaria” o ser humano em geral (e a mulher em particular) das garras da sociedade burguesa.
O melhor da obra de Lessing situa-se no período em que ainda se acreditava, mesmo que vagamente, no sonho e no ser humano. Há um quê romântico e ingênuo nesse posicionamento legítimo.
Lessing alcança a fama em 1962, com a ousadia de seu livro mais conhecido, “O Carnê Dourado” (anos 60 – movimento feminista). Ninguém parecia lembrar-se dela e, no Brasil, a maioria de sua copiosa obra não foi traduzida.
Lançando-se em estranhas empreitadas de ficção científica, ela só retomou à antiga e boa forma com os autobiográficos ou semi-autobiográficos “Debaixo da Minha Pele”, “Andando na Sombra” e “O Sonho mais Doce”.
“A autora recebeu o prêmio por transmitir a experiência épica feminina, que descreveu com ceticismo, paixão e força visionária a divisão da civilização”, comentou a Academia Sueca.
Nicholas Pearson, seu editor na Fourth State, festejou o prêmio dizendo que seus livros “mudaram a face da literatura pela descrição da vida interior das mulheres”.
Coordenadora Geral do Portal Terceira Idade, Pesquisadora do Envelhecimento, Pedagoga e Jornalista (API, Assoc. Paulista de Imprensa: Reg. 2152) (clique aqui para falar com a colunista)