José Maria Carneiro (foto) passou a ser conhecido por “Noventa” quando em Belo Horizonte, numa brincadeira de criança, chutou uma bola de meia 90 vezes.
Nascido em 1º de maio de 1942 em Diamantina, MG, seu primeiro clube foi o Imperial. Esteve em São Paulo disputando pelo Comercial antes de atuar pelo América-MG, Siderúrgica (clube da histórica cidade de Sabará ) e Atlético-MG.
“Eu ficava após os treinos no estádio para ver os profissionais se exercitando. Eu atuava de ponta-de-lança, a mesma posição de Noventa, e ele era elegante, técnico e habilidoso. Eu tentava jogar como ele. Noventa era meu ídolo”, declarou Tostão (tri-campeão mundial em 70), que em 1962, com 15 anos, jogou no juvenil do América Mineiro.
Em 1964, já no time principal do Cruzeiro, Tostão foi ao Estádio Independência assistir com seu pai a final do Campeonato Mineiro entre Atlético-MG e Siderúrgica. “Ficamos na primeira fileira da arquibancada, perto do gramado. No segundo tempo, Noventa caiu e fraturou o braço. Quando estava saindo de campo, Yustrich, o então técnico do Siderúrgica, conhecido pela sua truculência com os jornalistas e jogadores, mandou Noventa voltar, contrariando a ordem do médico. Noventa retornou, fez um gol e o Siderúrgica acabou campeão. Fiquei ainda mais fã de Noventa”, afirmou Tostão, entusiasmado.
Em 1965, na inauguração do estádio do Mineirão, Noventa foi reserva de Tostão na seleção mineira. “Se Noventa é meu reserva, devo ter um bom futuro no futebol. Sem saber, Noventa, além de ter sido meu ídolo, foi também meu grande incentivador”, recordou Tostão.
Hoje Noventa vive em Boston (Estados Unidos), cidade onde, nos anos 60, encerrou sua carreira jogando em clube local.
Mas Noventa está voltando às manchetes, ironicamente não pelos seus dons no futebol, mas por uma polêmica disputa judicial entre ele e a empresa americana de calçados Nike.
Ele quer receber uma reparação da empresa americana por ter batizado a coleção de calçados e bolas de futebol com o logotipo “90”, que acredita que foi inspirada em seu nome. “Posso não ter sido um grande craque, não ter jogado na seleção brasileira. Mas só vim para os EUA por causa do futebol”, afirmou Noventa.
Como resposta, a Nike utiliza-se do Google, argumentando que mal aparecem citações sobre Noventa no principal site de buscas na internet. Para a empresa, a internet serve como meio de aferir a fama de um atleta.
“Alguém deve esperar que um jogador brasileiro de classe mundial ao menos tenha competido numa liga profissional importante. Se levarmos em conta a ‘extensiva pesquisa’ que a Nike fez no Google, competições como o Mineiro são insignificantes”, afirmou um porta-voz da Nike.
A Nike, nas cartas enviadas para Noventa, justificou a forma como a coleção foi batizada por ela: ”Noventa minutos é o tempo regulamentar de um jogo de futebol, e isso só aconteceu porque o futebol é o esporte dominante tanto no Brasil como em Portugal”. A companhia ainda afirma que faz levantamento sobre direitos de imagem antes de batizar seus produtos.
“A Nike me depreciou, me deixou mal. Depois das respostas que a empresa me enviou, virou ponto de honra. Quero ser reconhecido”, disse Noventa, que pretende mudar o local da disputa judiciária. Vai procurar um advogado no Brasil e tentar uma ação aqui, pois os advogados nos EUA mostraram entusiasmo no começo, dizendo que ele poderia ganhar milhões, mas depois das cartas da Nike, tudo mudou. “Nos EUA, as pessoas não conhecem o futebol”, afirmou Noventa.
Coordenadora de redação e interatividade do Portal Terceira Idade (clique aqui para falar com a colunista)