Este ano, comemora-se o centenário da imigração japonesa ao Brasil. No dia 18 de junho de 1908 atracava, no porto de Santos, o navio Kasato-Maru, que partira do Japão, numa difícil viagem de quase 3 meses, trazendo os primeiros 781 japoneses ao Brasil.
O Japão atravessava uma crise econômica e, para muitos japoneses, a saída era a imigração. Muitos foram para os Estados Unidos e Peru.
A escolha da imigração deste grupo de pessoas para o Brasil foi idéia de um empresário japonês, Ryu Mizuno, que, após visitar o país, viu uma grande oportunidade nas lavouras cafeeiras brasileiras, abrindo, então, uma empresa de imigração.
O empresário exigiu que cada família levasse pelo menos três pessoas maiores de 12 anos em condições de trabalhar nas lavouras de café. Entre os imigrantes havia perfis profissionais dos mais variados, de poetas a trabalhadores braçais, todos quase sem nenhuma economia.
Enfrentando diferenças culturais muito grandes e percebendo que o regime de trabalho no Brasil ainda guardava resquícios da escravidão, os primeiros imigrantes se deram conta de que seu sonho de voltar logo ao Japão com o dinheiro do café estava longe de se realizar.
JAPONESES CENTENÁRIOS
COMEMORAM 100 ANOS DA IMIGRAÇÃO JAPONESA
Hoje com 100 anos de idade, Yoshito Hirata (foto acima), um dos primeiros japoneses que chegaram ao Brasil, desembarcou aqui quando tinha apenas 10 anos.
Órfão de pai e mãe, Yoshito saiu de Kyushu, na província de Fukuoka, com tios, primos e um irmão. Boa parte de sua família já estava aqui.
Com ótima memória, apesar da idade, Yoshito, que fala bem o português, conta que trabalhou na lavoura de café e algodão em diversas cidades do Interior de São Paulo: Marília, Presidente Prudente e Mogi das Cruzes. Na roça, criou galinhas e carneiros e mantinha diversas culturas, como hortelã e batata. “Apesar das dificuldades financeiras, nunca faltou comida para a gente”, afirma Rosa Hirata, a segunda filha, hoje com 67 anos.
De família católica, Yoshito mantém em seu quarto uma cruz, um terço e uma Bíblia, gosta muito de rezar e dedica parte do dia às orações. Issao, sua esposa, já falecida, ao contrário do marido, nunca se acostumou com a vida no Brasil e não conseguiu aprender a falar português. Tiveram 6 filhos, 11 netos e 3 bisnetos.
Yoshito, que mora hoje na Vila Mariana, em São Paulo, sempre manteve uma vida bastante regrada, fazendo suas refeições, por exemplo, sempre no mesmo horário. Freqüentou, durante muitos anos, o Parque da Aclimação diariamente para fazer radio taissô, ginástica rítmica japonesa. Quando jovem, participou de Shibai, grupos de teatro japonês e chegou a lutar sumô. Já mais velho, dedicou-se às orquídeas, hoje cuidadas pela filha Rosa.
Orgulhoso da saúde que mantém até hoje, Yoshito garante que a idade só afetou a audição e adora tomar uma cervejinha de vez em quando. “Queria mais”, diz, reclamando, quando a filha não o deixa tomar muito.
“Não sei o segredo para chegar aos 100 anos tão bem, mas sonhei que completaria 111 anos, e agora espero chegar lá”, conta Yoshito.
Coordenadora Geral do Portal Terceira Idade, Pesquisadora do Envelhecimento, Pedagoga e Jornalista (API, Assoc. Paulista de Imprensa: Reg. 2152) (clique aqui para falar com a colunista)