“Bate outra vez, com esperanças o meu coração, pois já vai terminando o verão enfim…” Quem é fã de Cartola (e da boa música de sua época), com certeza não se esquece deste famoso trecho de “As Rosas Não Falam”, que, uma vez que se começa a cantarolar, não sai mais da cabeça.
Cartola faria 100 anos no último dia 11 de outubro. Em 1908, nascia Angenor de Oliveira, o Cartola, no bairro do Catete, no Rio de Janeiro.
Em homenagem ao seu centenário, o Portal conta um pouco da história de um dos maiores compositores brasileiros do século passado.
Cartola tinha 11 anos quando sua família se mudou para o morro da Mangueira, no Rio. Desde de criança gostava das festas de rua, tocando cavaquinho, que o pai havia lhe ensinado. Conseguiu terminar o curso primário, mas aos 15 anos, depois da morte da mãe, deixou a família e a escola, iniciando sua vida de boêmio.
O apelido ‘Cartola’ surgiu quando, após trabalhar em várias tipografias, empregou-se como pedreiro, passando a usar sempre um chapéu (o qual chamava de cartola) para impedir que o cimento sujasse sua cabeça.
Cartola ajudou a fundar, em 1928, a segunda escola de samba carioca, o GRES (Grêmio Recreativo Escola de Samba) Estação Primeira de Mangueira, que teve seu nome e suas cores verde e rosa escolhidos por ele. A estréia da Mangueira em desfiles se deu com o primeiro samba composto por Cartola, ‘Chega de Demanda’.
Em 1931, Mário Reis comprou de Cartola os direitos de gravação do samba ‘Que Infeliz Sorte’, que acabou sendo lançado por Francisco Alves. Cartola vendeu outros sambas à Francisco Alves, cedendo apenas os direitos sobre a vendagem de discos e conservando a autoria.
Carmem Miranda gravou ‘Tenho um Novo Amor’, Sílvio Caldas lançou o samba ‘Na Floresta’, que compôs junto com Cartola. Ainda em 1932 a Mangueira foi campeã do desfile promovido pelo jornal “O Mundo Esportivo” com o samba ‘Pudesse Meu Ideal’, sua primeira parceria com Carlos Cachaça.
Em 1936, a Mangueira foi premiada com o samba ‘Não Quero Mais’, composto por Cartola em parceria com Carlos Cachaça e Zé da Zilda, samba este que seria gravado por Araci de Almeida, em 1937, e em 1973 por Paulinho da Viola, com o título mudado para ‘Não Quero Mais Amar a Ninguém’.
Em 1940, participou, ao lado de outros compositores, das gravações de música popular brasileira para o maestro Leopoldo Stokowski (1882-1976), que visitava o Brasil.
Em 1941, formou com Paulo da Portela e Heitor dos Prazeres o ‘Conjunto Carioca’, que durante um mês realizou apresentações em São Paulo, em um programa da Rádio Cosmos. A partir dessa época, o sambista desapareceu do ambiente musical. Correram boatos de que ele havia morrido.
Em 1956, o cronista Sérgio Porto o encontrou lavando carros em uma garagem de Ipanema e trabalhando à noite como vigia de edifícios. Sérgio levou-o para cantar na Rádio Mayrinck Veiga e, logo depois, Jota Efegê arranjou-lhe um emprego no jornal “Diário Carioca”.
Em 1964, Cartola abriu um restaurante, o ‘Zicartola’, na Rua da Carioca. Além da boa cozinha administrada por Zica, sua esposa, contava com a presença constante de alguns dos melhores representantes do samba de morro e por jovens compositores da geração pós bossa-nova.
Cartola só viria a gravar seu primeiro LP com seu nome em 1974, pouco antes de completar 66 anos, recebendo vários prêmios. Em 1976, gravou seu segundo LP, também intitulado Cartola, que continha uma de suas mais famosas criações, ‘As Rosas Não Falam’.
Em setembro de 1977, Cartola participou, acompanhado por João Nogueira, do Projeto Pixinguinha, no Rio. O sucesso do espetáculo levou-os a excursionar por São Paulo, Curitiba e Porto Alegre. No mesmo ano, em outubro, lançou seu terceiro disco-solo: ‘Cartola – Verde Que Te Quero Rosa’, com igual sucesso de crítica.
Quase aos 70 anos, mudou-se para o bairro de Jacarepaguá em 1978, buscando um pouco mais de tranqüilidade para continuar compondo. Neste mesmo ano, estreou seu segundo show individual, ‘Acontece’.
Em 1979, lançou seu quarto LP: ‘Cartola – 70 Anos’. Neste ano, descobriu que estava com câncer, doença que causaria sua morte em 30 de novembro de 1980. Entre composições próprias e de parceiras, Cartola deixou mais de 500 obras.
Para comemorar o seu centenário, nada melhor do que tirar do baú aqueles discos de vinil, tirar a poeira com cuidado, e curtir aquele som que só Cartola sabia compor.
Coordenadora Geral do Portal Terceira Idade, Pesquisadora do Envelhecimento, Pedagoga e Jornalista (API, Assoc. Paulista de Imprensa: Reg. 2152) (clique aqui para falar com a colunista)