Você acreditaria se alguém lhe contasse que um hospital privado de uma cidade do interior de São Paulo atende pessoas com câncer gratuitamente, e ainda hospeda o paciente e os familiares que o acompanham, sem cobrar nada, durante todo o período necessário para o tratamento, exames e eventual cirurgia?
Essa história existe e foi vivida há pouco tempo por Porfíria Oliveira, de 33 anos, cabeleireira, que mora em Vilhena, Rondônia. Ela viajou por três dias até Barretos, em busca de auxílio para retirar um tumor de 4,5 centímetros no cérebro. Havia seis meses, sofria com dores de cabeça fortíssimas e começara a perder a visão. Sua cirurgia estava orçada em 60.000 reais. “Logo que eu e minha mãe chegamos, fomos para um alojamento ao lado do hospital, com cama, banheiro e três refeições diárias. Durante um mês, fiz exames. Depois disso, marcaram a operação. Graças a Deus, correu tudo bem”, enfatizou. Porfíria recuperou a visão, livrou-se das dores de cabeça e descobriu que o tumor, felizmente, era benigno. “Em outro lugar, não teria conseguido me tratar”, desabafou.
Num país onde o acesso a hospitais privados é opção apenas para uma pequena parte da população, e o atendimento público deixa muito a desejar, o Hospital de Câncer de Barretos, localizado no interior paulista, é uma demonstração do empenho de um homem que, sem esperar nada em troca, oferece esperança para milhares de pessoas que não têm a quem recorrer.
A iniciativa é do paulista Henrique Prata (foto acima), de 55 anos. Pela aparência, qualquer um diria que ele é apenas mais um típico milionário do agronegócio. Ouve música sertaneja, veste-se com calças jeans justas, dirige caminhonetes enormes e adora desfilar suas botas de couro de crocodilo, compradas em Dallas, no Texas (EUA), por 1.500 dólares cada uma, por rodeios Brasil afora. Fez fortuna ainda jovem, quando largou os estudos para se dedicar à pecuária numa fazenda que ganhara do avô e, hoje, tem um patrimônio de 50 milhões de dólares.
Mas Prata é diferente da maioria de seus colegas do campo. Apesar da riqueza, vive batendo à porta dos gabinetes de Brasília atrás de dinheiro. Detalhe: ele não procura recursos públicos para botar no próprio bolso, e sim para manter aberto um hospital. “Em Brasília, ninguém me suporta. A maioria dos políticos, quando me vê, diz: ‘Ih, lá vem aquele chato do hospital outra vez’. Sou chato mesmo, admito. Quando vou a um gabinete, só saio depois de conseguir algum dinheiro para os doentes”, diz Prata.
O hospital do qual ele cuida atende, diariamente, 2.000 pessoas. E não cobra nada por isso. Os pacientes chegam de todos os estados, em ônibus, vans ou ambulâncias. Pobres em sua esmagadora maioria, sem plano de saúde para pagar pelo tratamento, todos são atendidos por médicos de alto nível, que trabalham em regime de dedicação exclusiva (coisa rara no país) e têm à sua disposição equipamentos de última geração para fazer diagnósticos e realizar tratamentos. E ainda recebem alojamento e refeições, tudo com muito respeito.
O trabalho de Henrique Prata, que possibilita que Porfíria e tantas outras pessoas sejam atendidas, começou há vinte anos. O hospital que ele comanda havia sido fundado por seu pai, Paulo, um médico oncologista. Prata vivia só para as fazendas, mas descobriu que seu pai estava em dificuldades. O hospital, que era pequeno, dava prejuízo todo mês. Inicialmente ele assumiu a administração a fim de sanear as dívidas e fechar as portas do hospital. No entanto, ao conhecer o trabalho de perto, decidiu tentar salvar o sonho do pai. Equilibrou as contas e, em seguida, pediu a quarenta amigos pecuaristas que doassem 10.000 dólares cada um para construir a nova sede. Todos ajudaram.
O hospital consome, hoje, 11 milhões de reais por mês. Desse total, 7,5 milhões de reais vêm do Sistema Único de Saúde. O resto é coberto com as verbas extras que Prata arranca todos os meses de políticos e com doações de empresários e artistas, como, por exemplo, os cantores Leonardo e Ivete Sangalo.
“Quem dera tivéssemos mais chatos como Henrique Prata no Brasil”, diz a apresentadora Xuxa, que sempre coopera, aparecendo eventualmente no hospital para animar os pacientes.
Coordenadora de redação e interatividade do Portal Terceira Idade (clique aqui para falar com a colunista)