Sebastião Bernardes de Souza Prata, mais conhecido como Grande Otelo, e Oscar Lorenzo Jacinto de la Imaculada Concepción Teresa Dias, o Oscarito, são dois grandes (literalmente) nomes do teatro e do cinema nacional. Um mineiro e o outro espanhol, encontraram-se no Rio de Janeiro em 1935, quando juntaram, então, seus talentos.
Otelo, nascido em 18 de outubro de 1915 em Uberlândia, MG, era mais conhecido, no início, por Pequeno Otelo, pseudônimo com que se apresentava desde os sete anos de idade em circos e teatros e na Companhia Negra de Revistas, a partir de 1926.
Quando sua mãe estava se casando novamente, logo após a morte de seu pai, ele aproveitou a visita de uma companhia de teatro mambembe à Uberlândia para escapulir. A diretora do grupo, Abigail Parecis, o adotou “de papel passado” e o trouxe para São Paulo.
Mas Otelo fugiu de novo e, após várias entradas e saídas no Juizado de Menores, foi adotado, mais uma vez, pela família de Antônio de Queiroz, político influente da época. A família Queiroz sonhava em transformá-lo em advogado, mas Otelo bateu pé: “vou ser artista”.
Com o término da Companhia Negra, ficou internado num colégio. Foi quando voltou ao teatro, com a Companhia Jardel Jércolis (do pai do ator Jardel Filho e um dos pioneiros do teatro de revista), que ele ganhou o apelido que o consagrou. Os amigos o chamavam de Pequeno Otelo, por razões óbvias (tinha 1,50 m de altura), mas ele preferiu o pseudônimo Grande Otelo.
Já Oscarito, nascido em 16 de agosto de 1906, em Málaga, na Espanha, veio para o Brasil com 1 ano de idade. Filho de uma família de circenses com uma tradição de mais de 400 anos de picadeiro, naturalizou-se brasileiro e tornou-se um dos maiores gênios da comédia brasileira. Ao lado da família, estreou no circo aos 5 anos como índio, numa adaptação da peça “O Guarani”, de José de Alencar.
Quando Oscarito e Otelo se conheceram, Otelo ainda não era “Grande” e nem tinha certidão de nascimento e Oscarito não tinha nem certidão de batismo em português.
A parceria esboçada em 1935 só se concretizaria mesmo nove anos mais tarde. Foi um dia muito importante para Oscarito, porque nascia, em agosto de 1944, sua filha querida, Miryan Thereza, marcando o ano de seu encontro profissional com aquele que viria a ser o seu maior parceiro no cinema.
“A paródia de ‘Romeu e Julieta’ é não só um dos pontos altos de ‘Carnaval no Fogo’ como de toda a história da chanchada”, comentou, em 1949, o escritor Flávio Marinho. Ironicamente, era, também, o momento mais trágico da vida de Otelo.
Grande Otelo estava em cartaz com a peça “Está com Tudo e Não Está Prosa”, de Freire Júnior e Walter Pinto, e filmava “Carnaval no Fogo” (de Watson Macedo, 1950), quando sua mulher, Lúcia Maria, matou o filho, Chuvisco, de seis anos e se suicidou.
Todo o elenco da peça surpreendeu-se na matinê do sábado, 20 de novembro, quando viu Grande Otelo chegar e dirigir-se ao camarim para mudar de roupa. “Grande Otelo foi diretamente do cemitério para o estúdio e, nesse dia, fez o melhor trabalho de sua carreira, a Julieta de peruca loura e vestido da época, que contracenava com o Romeu de Oscarito. O homem que caía em prantos nos intervalos da filmagem era o oposto do ator que entrava em cena, sem a menor marca da tragédia no rosto”, disse Watson Macedo, em 1975.
Em 1942, Grande Otelo participou de “It’s all true”, filme realizado por Orson Welles no Brasil. Em “Fitzcarraldo” (1982), do alemão Werner Herzog, filmado na selva, no Peru, quase enlouqueceu o ator Klaus Kinski, que tinha o ego do tamanho da Amazônia. Otelo precisava fazer uma cena em inglês, mas resolveu falar em espanhol, idioma que Kinski desconhecia. Irado, Kinski retirou-se do set. Quando o filme estreou na Alemanha, aquela foi a única cena aplaudida pelo público, contou depois o diretor Herzog. Otelo morreu em 1993 de um ataque do coração, em Paris, a caminho de uma homenagem que receberia no Festival de Nantes.
A parceria de Oscarito com Grande Otelo resultou em 34 chanchadas. No final dos anos 40, Oscarito passou a parodiar as superproduções feitas em Hollywood, com no antológico “Este Mundo é um Pandeiro” (1947), no qual travestiu-se de Rita Hayworth numa sátira ao filme “Gilda”. Num final de semana, enquanto arrumava as malas para passar um final de semana em seu sítio de Ibicuí (RJ), Oscarito passou mal: as pernas ficaram dormentes e ele desmaiou. Um derrame cerebral, que o deixou em coma, causou sua morte dez dias depois, em 4 de agosto de 1970.
Psicólogo, Cinéfilo, participa de ONGs em defesa dos animais (clique aqui para falar com o colunista)
1 Comentário
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