O que é felicidade? Ser feliz é uma sensação que independe da idade? O idoso brasileiro é mais feliz que os de outros países? Dinheiro traz felicidade? Qual é o sentido da vida?
Todos nós já nos fizemos essas perguntas em alguma etapa da nossa vida. Para tentar responder estas e outras questões, entrevistei o psicólogo e doutorando em Psicologia pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Bruno Figueiredo Damásio, que, em parceria com a Universidade de Innsbruck, na Áustria, está investigando os níveis de sentido de vida e de felicidade de brasileiros de diferentes faixas etárias.
A pesquisa, que já conta com dados de mais de 4.000 participantes, uma das maiores já realizada no Brasil para avaliar características positivas da personalidade, está sendo conduzida em todo o País e busca compreender quais os aspectos que mais auxiliam na percepção de realização existencial para as pessoas.
Minha maior curiosidade ao longo da entrevista foi tentar entender como podemos viver com satisfação ao longo de toda a vida e, também, na idade madura, o que pode nos ajudar a identificar e colocar em prática as coisas que nos deixam bem dentro de uma sociedade cheia de regras e convenções, e, em particular, como trabalhar esta questão no Brasil, que é um país cheio de dificuldades sociais e financeiras, especialmente na terceira idade.
Você também pode participar da pesquisa, que pode ser respondida pela internet. A avaliação, com perguntas simples e fáceis de responder, tem duração de aproximadamente 25 minutos. Veja como participar no final da matéria.
Leia, abaixo, a entrevista exclusiva:
Portal Terceira Idade: Bruno, fale-me um pouco sobre sua pesquisa de índice de felicidade e satisfação. Em qual estudo ela se baseia e por que você achou importante realizá-la?
Bruno Figueiredo Damásio: A pesquisa, intitulada “Sentido de vida e bem-estar subjetivo: Relações com esperança, otimismo, autoestima e autoeficácia em diferentes etapas do ciclo vital”, está sendo realizada em todos os estados brasileiros e tem por objetivo avaliar os índices de realização existencial, felicidade, satisfação com a vida, otimismo, esperança, autoestima e autoeficácia em uma grande amostra da população brasileira.
Nesta perspectiva, essa pesquisa é uma das maiores pesquisas nacionais já realizadas com o objetivo de avaliar indicadores psicológicos positivos na população brasileira. Os resultados deste estudo fornecerão diversas informações para que possamos elaborar propostas de prevenção e promoção de bem-estar, para diferentes grupos etários. Além disso, será possível pensar em estratégias de tratamento para indivíduos com indicadores de depressão, vazio existencial, etc.
Portal: Dentro desta pesquisa, você imagina que, para o público da terceira idade, as necessidades e prazeres são muito diferentes das do público jovem e adulto? Quais seriam as diferenças?
Bruno: Um dos objetivos do estudo é justamente avaliar em que medida os aspectos que os jovens valorizam são semelhantes ou diferentes dos aspectos que o público da terceira idade valoriza. Com essas informações, teremos uma clara noção de como devemos trabalhar com cada faixa etária quando estivermos elaborando planos de intervenção voltados ao bem-estar.
Alguns estudos têm, por exemplo, demonstrado que os jovens têm uma tendência a valorizar mais fortemente aspectos relacionados ao seu desenvolvimento pessoal, enquanto pessoas mais velhas tendem a valorizar mais fortemente aspectos sociais, de interação. Com a nossa pesquisa, iremos avaliar quais são as fontes e os valores pessoais que mais fortemente contribuem para a sensação de realização, felicidade e satisfação com a vida, e como essas fontes mudam para diferentes faixas etárias, grupos socioeconômicos, etc.
O grande objetivo será que todas as nossas futuras intervenções sejam baseadas em evidências, contribuindo para a eficácia dos processos.
Portal: Como esta pesquisa esta sendo feita em vários estados do Brasil, você acha que as características regionais influenciam nos níveis de felicidade?
Bruno: Acredito que sim. Sabemos que o Brasil é um país enorme, com diversas peculiaridades culturais em cada região. Existem cidades conhecidamente estressantes, outras mais calmas e tranquilas. O senso-comum também aponta algumas regiões como mais calorosas, outras mais frias, com o contato social menos intenso, etc.
Será possível avaliar vários desses indicadores, sim, e se, de fato, isso afeta ou não o nível de bem-estar da população. Entretanto, não posso afirmar, de antemão, que determinada região tende a ser mais feliz do que outra, por exemplo. Para isso, precisaremos analisar cuidadosamente os dados que serão coletados.
Portal: O item financeiro e de estabilidade social influência muito no sentimento de felicidade das pessoas ou não? E, na terceira idade, qual o fator que você acredita que influencie mais?
Bruno: O dito popular de que “Dinheiro não traz felicidade” é real. Diversos estudos, de diferentes áreas, têm demonstrado que aspectos socioeconômicos explicam apenas uma pequena parcela da felicidade – menos de 10%. Alguns estudos têm demonstrado, por exemplo, que após sair do nível de miserabilidade, e após suprir as necessidades básicas, a renda influencia menos de 6% da felicidade individual.
Portal: Satisfação e felicidade funcionam mais que muitos remédios. Como fazer desta questão uma prática diária para a vida em todas as idades?
Bruno: Exatamente, Tony. Satisfação com a vida e felicidade são ótimos “remédios” naturais.
Em 2008, foi publicado um artigo na revista Journal of Happiness Studies (Revista de Estudos sobre a Felicidade), em que o autor sintetizou os resultados de mais de 30 estudos que avaliaram a relação entre felicidade e saúde física. Os resultados deste estudo demonstraram que há uma relação significativa entre felicidade e longevidade, onde pessoas mais felizes tendem a viver mais.
Essa relação, entretanto, não foi encontrada em grupos de idosos com estágios avançados de doença, mas apenas em idosos considerados saudáveis. Esse estudo ainda demonstrou que o efeito positivo da felicidade na saúde física era tão forte quanto o efeito negativo do cigarro.
Quando falamos em felicidade, é importante considerar as particularidades de cada pessoa. Dependendo de suas características individuais, é importante que as pessoas não olhem para a felicidade como um fim em si mesmo, mas, sim, para uma série de características pessoais que podem estar dificultando a realização dos aspectos que, de fato, lhe tornariam mais feliz.
Por exemplo, pessoas com baixa autoestima – não gostam de quem são –, baixa autoeficácia – não acreditam em seu potencial –, e com níveis elevados de pessimismo – acreditam que coisas negativas vão acontecer, em detrimento de coisas positivas –, precisam, antes de buscar a felicidade, tentar reduzir esses aspectos negativos, que, em maior ou menor medida, atravessam o seu caminho diariamente.
É importante salientar, por fim, que modificar características pessoais negativas é possível, e que, caso o indivíduo não esteja se sentindo capacitado para essa tarefa, este deve buscar profissionais da Psicologia que auxiliar nessa jornada.
Portal: Gostaria muito que você disponibilizasse esta pesquisa para os internautas do Portal. De que maneira você acredita que ela possa ajudá-los?
Bruno: Será um prazer disponibilizar a pesquisa para os internautas do Portal Terceira Idade. A pesquisa poderá ser útil de diversas formas. Temos percebido que as pessoas que respondem ao questionário tendem a terminá-lo bastante satisfeitas.
Isto porque a pesquisa trata de temas positivos, e as perguntas levam as pessoas a pensarem em aspectos das suas vidas que, em geral, são esquecidos no dia-a-dia. Responder estas pesquisas é um convite a autorreflexão e ao autoconhecimento.
Posteriormente, divulgaremos os resultados da pesquisa para todos os participantes interessados, e esse resultado também poderá contribuir para que as pessoas possam, de fato, aplicar os achados em suas próprias vidas.
Coordenadora Geral do Portal Terceira Idade, Pesquisadora do Envelhecimento, Pedagoga e Jornalista (API, Assoc. Paulista de Imprensa: Reg. 2152) (clique aqui para falar com a colunista)