“Não posso ficar nem mais um minuto com você. Sinto muito amor, mas não pode ser…” Ainda me lembro, como se tivesse sido ontem, quando meu pai trouxe para casa o compacto simples dos ‘Demônios da Garoa’, com a música ‘Trem das Onze’. Eu era muito criança na época – o ano era 1965, e eu tinha só 7 anos – mas, mesmo assim, eu ficava cantarolando a música o dia todo. Alguns anos depois, ouvi a música na voz – rouca, mas muito gostosa de ouvir – do próprio autor, Adoniran Barbosa.
Este ano, comemora-se o cinquentenário da música – ela foi criada em 1964, mas foi em 1965 que a canção foi premiada no Carnaval do Rio de Janeiro. Além dos Demônios da Garoa, o samba recebeu uma versão da cantora baiana Gal Costa.
O “trem das 11” realmente existiu
Em 1964, o sambista Adoniran Barbosa disse à sua amada, na época, que não podia ficar nem mais um minuto com ela. Tudo porque morava em Jaçanã e, se perdesse o trem das 11, só voltaria para casa na outra manhã – além de provocar uma noite de insônia em sua pobre mãe. Assim, sem querer, imortalizou a linha do Tramway, condutora do tal trem, que realmente existia. Criada em 1894, foi extinta no ano seguinte ao do sucesso musical, em 1965.
“João Rubinato não é nome de cantor de samba…”
Adoniran achava que João Rubinato, seu nome verdadeiro, não era nome de cantor de samba. Resolveu mudar. De um amigo, pegou emprestado Adoniran e, em homenagem ao sambista Luiz Barbosa, adotou seu sobrenome.
Adoniran, que faria 105 anos em agosto deste ano, nasceu em Valinhos, no interior de São Paulo, em 1910. Filho de imigrantes italianos, abandonou os estudos ainda no primário para trabalhar. Foi tecelão, balconista, pintor de paredes e até garçom. No começo da década de 30, passou a frequentar os programas de calouros da rádio Cruzeiro do Sul de São Paulo. Ganhou seu primeiro prêmio em um concurso carnavalesco, conquistando o 1º lugar com a marcha ´Dona Boa´, em 1934.
Suas músicas, entre elas, ‘Malvina’, ‘Samba do Arnesto’ e ‘Saudosa Maloca’, representam um dos painéis mais importantes da cidadania brasileira. Os despejados das favelas, os engraxates, a mulher submissa que se revolta e abandona a casa, o homem solitário, estão intactos nas criações de Adoniran que, com humor, descrevia as cenas do cotidiano. O compositor morreu em 1982, aos 72 anos de idade.
Coordenador de Webdesign e TI do Portal Terceira Idade, Jornalista e Publicitário (API, Assoc. Paulista de Imprensa: Reg. 2150) (clique aqui para falar com o colunista)