Numa pequena aldeia no interior da Coreia do Sul, Hwang Wolgeum, aluna da primeira série, vai à escola acompanhada de três outras meninas, todas de sua família: uma está no jardim da infância, outra na terceira série e outra na quinta.
Um “pequeno detalhe” torna a cena peculiar: Hwang tem 70 anos – e suas colegas são suas netas.
Analfabeta durante toda a vida, ela lembra que se escondia atrás de uma árvore e chorava quando via suas amigas indo para a escola, há 60 anos. Enquanto outras crianças da aldeia aprendiam a ler e escrever, ela ficava em casa tratando de porcos, colhendo lenha e cuidando dos irmãos menores. Mais tarde ela criou seis filhos, e mandou todos para o colégio ou a faculdade.
Mas ela sempre sofreu por não poder fazer a mesma coisa que outras mães faziam. “Escrever cartas para meus filhos, era o que eu mais sonhava”, afirma Hwang.
Baixa taxa de natalidade
O que Hwang nunca imaginou era que a taxa de natalidade do país iria ajudá-la a realizar seu sonho. Despencando, nas últimas décadas, para menos de um filho por mulher no ano passado, a natalidade na Coreia do Sul tem um dos índices mais baixos do mundo. As áreas mais atingidas são os municípios rurais, onde jovens casais migram em massa para as cidades buscando empregos mais bem pagos.
Como muitas escolas rurais, a Elementar Daegu, na aldeia de Hwang, estava ficando sem crianças em idade escolar e precisava desesperadamente encher as classes de alunos.
Já quase sem esperança, o diretor da escola teve uma ideia criativa: matricular moradores mais velhos que quisessem aprender a ler e escrever.
Hwang e mais sete mulheres, de 56 a 80 anos, se candidataram às vagas, e pelo menos outras quatro pediram para ser matriculadas no ano que vem.
Chorando de emoção
Hwang começou as aulas no mês passado. “Eu não conseguia acreditar que aquilo realmente estava acontecendo comigo”, disse ela. “Carregar uma mochila para a escola sempre foi meu sonho”, completou, com lágrimas de emoção.
Perdida no metrô
Ser analfabeta lhe causou muitas humilhações na vida. Postar pacotes sempre foi um problema porque ela não sabia escrever os endereços. Anos atrás, ela e o marido, Chae Jan-ho, 72, estavam visitando seu filho em Seul quando se separaram no metrô movimentado. Hwang não sabia ler nenhuma das placas e ficou perdida até que um desconhecido a ajudou a encontrar o caminho.
Agora ela e seus colegas estudantes estão decididos a compensar o tempo perdido. “Elas estão ansiosas para aprender”, disse Jo Yoon-jeaong, 24, professor da escola, sobre seus alunos da primeira série. “Provavelmente são os únicos estudantes que pedem mais lição de casa”.
Sofá, colchão aquecido e doces
Ao contrário de outras classes, a dos primeiranistas tem um sofá e um colchão aquecido. Nos intervalos, as mulheres idosas se sentam no colchão e cobrem os pés com cobertores. Elas também têm um cesto de doces para as da segunda série, ao lado, que às vezes vêm visitar.
Planos para o futuro
Hwang agora já tem outros planos. “Vou me candidatar a presidente da sociedade de mulheres da aldeia”, comenta. “As pessoas me pediam para disputar, mas eu sempre recusei. É um cargo para alguém que sabe ler e escrever”, finaliza.
Fotos: The New York Times / divulgação
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Coordenadora de redação e interatividade do Portal Terceira Idade (clique aqui para falar com a colunista)