“No alto da serra
Onde a terra
Parece não ter fim
Onde araucária se esgueira
Nos cimos da Mantiqueira
O carpinteiro Joaquim
Em meio às colinas Verdejantes
Onde passam romeiros e viajantes
Seu Quim como era chamado
O mestre carreiro
Artista admirado
De jeito simples E bem humorado
Daqueles que se ficava por horas
Trocando umas prosas
De jeito agradável e galante
A todos conquistava num instante
Alinhado e aprumado
De botina e xadrez
Não se esquecia nenhuma vez
Na cintura carregava
Faca que ele mesmo fez
na cabeça não faltava
o chapéu Que ele sempre usava
Numa charmosa beirada de rio
Ao pé da mata onde nasce o frio
Numa casa avarandada
Quim fez sua morada
Cercada de pereira
E de jacarandá
Nas cercas cresciam maracujás
na figueira subia o mandruvá
Goiabeiras
Bananeiras e mangueiras
O bom Quim fez a sua própria floresta
Que história é esta?
De tanto amor a natureza
Generosidade e presteza
Quim replantou
Mais do que utilizou
Não foi por obrigação
Mas por gratidão
Pensamento e coração
De quem só o bem semeou
Por onde passou
Plantou muita araucária para dar sombra e pinhão
No fogão rústico no cimento queimado
O caldeirãozinho e o prato branco esmaltado
A farinha de milho no café
Forrava o estômago pra dar sustança
Da roça pra cidade se andava a pé
Era sempre uma distância
Armazém para comprar mistura
Na horta se colhia a verdura
E na igreja sempre se confirmava a fé
Logo ao lado da casa
No fim da trilha
Ao som do radinho de pilha
A oficina do Quim
Cantos de sabiá sem fim
Bem te vi
Eu vi
Moda de viola, rádio AM até
Radio Aparecida
Causos do Barnabé
Dava pra bater o pé
Pra dançar o catira
Expressar o Orgulho de ser caipira
Coração
Tradição
Na madeira entalhada
Ele fez a sua arte
Conhecida em toda parte
A sua marca registrada
Por montanhas e estradas
Onde muita gente se foi
Fez os melhores carros de boi
Carro grandioso
De canto alto e majestoso
Com capricho
Agradava até os “bicho”
Os bois ficavam metidos
Orgulhosos de puxar
Os carros mais bonitos
Feitos pela mão
Do mestre Quim Costa
A aboiada que se amostra
Na condução do Carreiro Joāo Batista
Carreiro perfeccionista
Que muito cedo foi chamado
Talvez por que Deus entediado
precisava de um carreiro bom
Para levar o som
Único do carro de boi
Logo em seguida também se foi
O velho Quim
Que prontamente disse sim
Ao saber que lá no céu ia ter catira
Moda de viola caipira
E junto de Jesus, Maria e José
Esperavam por ele na fé: Zezão, João e sua eterna amada Jandira.”
Foto: Mathias C. Pereira – Arquivo pessoal
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Especialista em ESG & Branding 50+ (clique aqui para falar com o colunista)