Mesmo não sendo, ainda, a comemoração de seu centenário, vale a pena conhecer um pouco da história de um dos maiores compositores brasileiros do século passado.
No dia 11 de outubro de 2007, Cartola comemoraria 99 anos de vida. Em 1908, no mesmo ano em que morreu outro gênio da arte nacional, Machado de Assis, nascia Angenor de Oliveira, o Cartola, no bairro carioca do Catete.
Cartola tinha 8 anos quando sua família se mudou para Laranjeiras e 11 quando passou a viver no morro da Mangueira, de onde não mais se afastaria.
Desde de criança gostava das festas de rua, tocando cavaquinho, que o pai havia lhe ensinado. Passando por diversas escolas, conseguiu terminar o curso primário, mas aos 15 anos, depois da morte da mãe, deixou a família e a escola, iniciando sua vida de boêmio.
O apelido ‘Cartola’ surgiu quando, após trabalhar em várias tipografias, empregou-se como pedreiro, passando a usar sempre um chapéu (o qual o chamava de Cartola) para impedir que o cimento lhe sujasse a cabeça.
Da fusão do Bloco dos Arengueiros (do qual Cartola foi um dos fundadores, em 1925) com outros blocos existentes no morro, Cartola ajuda a fundar, em 28 de abril de 1928, a segunda escola de samba carioca, o G.R.E.S (Grêmio Recreativo Escola de Samba) Estação Primeira de Mangueira, que teve seu nome e suas cores verde e rosa escolhidos por ele. A estréia da Mangueira em desfiles se deu com o primeiro samba composto por Cartola, ‘Chega de Demanda’.
Em 1931, Mário Reis subiu o morro para comprar os direitos de gravação do samba ‘Que Infeliz Sorte’, que acabou sendo lançado por Francisco Alves por não ter se adaptado à voz de Mário Reis. Cartola vendeu outros sambas à Francisco Alves, cedendo apenas os direitos sobre a vendagem de discos e conservando a autoria.
Carmem Miranda gravou ‘Tenho um Novo Amor’, Sílvio Caldas lançou o samba ‘Na Floresta’, que compôs junto com Cartola. Ainda em 1932 a Mangueira foi campeã do desfile promovido pelo jornal “O Mundo Esportivo” com o samba ‘Pudesse Meu Ideal’, sua primeira parceria com Carlos Cachaça.
Em 1936, a Mangueira foi premiada com o samba ‘Não Quero Mais’, composto por Cartola em parceria com Carlos Cachaça e Zé da Zilda, samba este que seria gravado por Araci de Almeida, em 1937, e em 1973 por Paulinho da Viola, com o título mudado para ‘Não Quero Mais Amar a Ninguém’.
Em 1940, participou, ao lado de outros compositores, das gravações de música popular brasileira para o maestro Leopoldo Stokowski (1882-1976), que visitava o Brasil. Essas gravações deram origem a dois álbuns de quatro discos lançados nos EUA.
Em 1941, formou, com Paulo da Portela e Heitor dos Prazeres, o ‘Conjunto Carioca’, que durante um mês realizou apresentações em São Paulo, em um programa da Rádio Cosmos. A partir dessa época, o sambista desapareceu do ambiente musical. Muitos achavam que tinha morrido.
Em 1956, o cronista Sérgio Porto o encontrou lavando carros em uma garagem de Ipanema e trabalhando à noite como vigia de edifícios. Sérgio levou-o para cantar na Rádio Mayrinck Veiga e, logo depois, Jota Efegê arranjou-lhe um emprego no jornal “Diário Carioca”.
Em 1964, abre um restaurante, o ‘Zicartola’, na Rua da Carioca. Além da boa cozinha administrada por Zica sua esposa, contava com a presença constante de alguns dos melhores representantes do samba de morro e por jovens compositores da geração pós bossa-nova. Durou pouco essa confraternização morro-cidade: o restaurante fechou as portas, reabrindo em 1974 no bairro paulistano de Vila Formosa.
Cartola só viria a gravar seu primeiro LP com seu nome em 1974, meses antes de completar 66 anos, recebendo vários prêmios. Em 1976, grava seu segundo LP, também intitulado Cartola, que continha uma de suas mais famosas criações, ‘As Rosas Não Falam’.
Em setembro de 1977, Cartola participou, acompanhado por João Nogueira, do Projeto Pixinguinha, no Rio. O sucesso do espetáculo levou-os a excursionar por São Paulo, Curitiba e Porto Alegre. No mesmo ano, em outubro, lançou seu terceiro disco-solo: ‘Cartola – Verde Que Te Quero Rosa’, com igual sucesso de crítica.
Mudou-se para o bairro de Jacarepaguá em 1978 (quase aos 70 anos), buscando um pouco mais de tranqüilidade para continuar compondo. Neste mesmo ano estreou seu segundo show individual, ‘Acontece’, outro sucesso.
Em 1979, lançou seu quarto LP: ‘Cartola – 70 Anos’. Nesta época, descobriu que estava com câncer, doença que causaria sua morte, em 30 de novembro de 1980. Entre composições próprias e de parceiras, Cartola deixou mais de 500 obras.
Quase perto de comemorarmos seus 100 anos, é uma boa hora para tirar do baú todos os discos antigos, aqueles ainda de vinil, tirar a poeira com cuidado, e curtir aquele som que só Cartola sabia compor.
Coordenadora Geral do Portal Terceira Idade, Pesquisadora do Envelhecimento, Pedagoga e Jornalista (API, Assoc. Paulista de Imprensa: Reg. 2152) (clique aqui para falar com a colunista)