A crítica estrangeira não foi menos entusiástica que a brasileira quando, na primeira metade do século passado, ‘Casa-Grande & Senzala’ (1933, atualmente em sua 48a. edição) apareceu em castelhano, inglês, francês, alemão, italiano, polonês e húngaro, reconhecendo sua obra como “além de ciência e de inteligência, uma obra de arte, o livro de Freyre é uma revolução, uma demonstração de coragem e combate, é uma vitória do amor dos homens aos seus semelhantes”.
Para conhecer melhor esse escritor que, com suas idéias, seu estilo e sua linguagem, incomodava os acadêmicos e intelectuais dos anos 1920, os quais pressentiram que, através daquele jovem de vinte e poucos anos, vinha qualquer coisa de original e de revolucionário que os ultrapassaria para sempre, vejamos um pouco sobre sua história.
Gilberto Freyre (foto) nasceu em Recife, PE, em 15 de março de 1900, filho de Alfredo Freyre, educador, Juiz de Direito e catedrático de Economia Política da Faculdade de Direito do Recife e de Francisca de Mello Freyre.
Aos seis anos de idade tentou fugir de casa escondendo-se em Olinda, cidade à qual devotou grande amor. Em 1908 iniciou seus estudos freqüentando o Jardim da Infância do Colégio Americano Gilreath. Teve dificuldade em aprender a ler e escrever, mas fez-se notar pelos seus desenhos. Tomou aulas particulares de desenho com o paisagista pernambucano Telles Júnior. Aprendeu a ler e escrever em inglês, antes de fazê-lo na língua materna, com um inglês chamado Mr. William.
Aos 14 anos, Freyre organizou a sociedade literária do colégio e dirigiu o jornalzinho ‘O Lábaro’, no qual publicou seus primeiros artigos. Com 16 anos, viajou à capital da Paraíba, onde, a convite do jornalista Carlos Dias Fernandes, proferiu uma conferência sobre “Spencer e o problema da educação no Brasil” , no cine-teatro Pathé.
Formou-se Bacharel em Artes na Universidade de Baylor University, em Waco, no Texas (Estados Unidos), e na Universidade de Columbia University, em Nova York (Estados Unidos), onde concluiu o curso de mestrado em Ciências Sociais. Sua volta à província é marcada pelos seus artigos, onde exerceu uma atividade de conscientização. “Procuro ensinar os brasileiros a vestir, a comer, a ler, a construir as suas casas e os seus jardins, a viver, afinal, dentro das condições de seu clima e das suas cidades”, disse Gilberto.
Freyre tornou-se inaceitável para os conservadores e burgueses, para os literatos acadêmicos, para os políticos verbosos e vazios. A maneira anticonvencional de Freyre se vestir e os seus hábitos de vida escandalizavam os homens pacatos da época.
Freyre foi pioneiro com seu estudo sobre a formação da sociedade brasileira através de questionários que fez com brasileiros de ambos os sexos, de diferentes classes sociais, nascidos entre 1850 e 1900, resultando em um de seus clássicos, ‘Ordem & Progresso’.
O mestre historiador João Ribeiro classificou seu livro ‘Casa-Grande & Senzala’, como uma obra de sentido meta-político. Ele percebia, como Freyre, que era impossível planejar o futuro do Brasil sem considerar os fatores geográficos, étnicos e culturais que condicionariam seu desenvolvimento do século XVI aos nossos dias.
Foi inestimável a contribuição de Freyre no campo da Educação e das Ciências Sociais, sendo convidado pelo educador Anísio Teixeira para ser o diretor do Centro Brasileiro de Pesquisas Educacionais (CBPE) e seus Centros Regionais, que acabara de criar, além do fato de, juntos, terem batalhado por uma política educacional atenta à diversidade regional do Brasil.
Em 1980, recebeu diversas homenagens pelos seus oitenta anos de vida, entre elas, a medalha de Ordem do Ipiranga. O Congresso Nacional realizou sessão solene, destinada a homenagear o escritor Gilberto Freyre.
No Dia Internacional das Nações Unidas contra a discriminação racial, o Diretor-Geral da Unesco, Amadou M’Bow, lhe entregou a medalha “Homenagem da Unesco”, em comemoração do cinqüentenário da publicação de ‘Casa-grande & senzala’.
Em 11 de março de 1987 foi criada a Fundação Gilberto Freyre. No mês seguinte, submeteu-se a uma cirurgia para introdução de marca-passo. Faleceu no Hospital Português, às 4 horas da madrugada de 18 de julho.
No Museu da Língua Portuguesa estará em exposição ‘Em casa com Freyre’ até o dia 04 de maio de 2008. Montada como uma casa, a mostra está ordenada segundo o eixo principal da obra de Gilberto Freyre, composto pelos livros ‘Casa-Grande & Senzala’, ‘Sobrados e Mucambos’ e ‘Ordem & Progresso’, que constituem o conjunto que o autor denominou como “Introdução à História da Sociedade Patriarcal no Brasil”.

Coordenadora Geral do Portal Terceira Idade, Pesquisadora do Envelhecimento, Pedagoga e Jornalista (API, Assoc. Paulista de Imprensa: Reg. 2152) (clique aqui para falar com a colunista)