Muitas vezes esquecemos que os artistas envelhecem. Talvez porque, quando assistimos filmes antigos ou mesmo reprises das novelas na TV, acabamos guardando na nossa memória a imagem de como eles estavam naquele momento.
Bem, envelhecer não é sinônimo de algo ruim. Muito pelo contrário, é sinônimo de sabedoria, experiência e muita história para contar. Infelizmente, no Brasil, o envelhecimento ainda é muitas vezes tido como uma “doença”. Para a maioria da população idosa ainda falta muito apoio moral e financeiro nesta fase da vida.
Todos nós somos artistas do dia-a-dia, porém me chamou a atenção uma iniciativa que aconteceu há 90 anos atrás.
Em 1918, foi fundada a Casa dos Artistas (foto), também conhecida como Retiro dos Artistas. Seu fundador foi Leopoldo Fróes, um dos mais bem sucedidos artistas brasileiros do século 20, que se inspirou no exemplo da Maison de Répos des Artistes Dramatiques Français, criada pelo Barão Taylor nos arredores de Paris. Fróes conseguiu o apoio de vários artistas e jornalistas para a criação de uma associação que, sustentada por artistas, pudesse acolher temporária ou definitivamente os artistas que, no Brasil daquele tempo sequer tinham sua profissão reconhecida como tal.
Até 1964, a Casa dos Artistas dividiu-se no atendimento assistencial e sindical à categoria, vindo a assumir sua função exclusivamente assistencial a partir da fundação do Sindicato dos Artistas e Técnicos em Espetáculos de Diversões do Estado do Rio de Janeiro (SATED/RJ).
No local, as pessoas podem receber Curso Profissionalizante de Interpretação Cênica, Curso Livre de Teatro e Curso Livre de Teatro Infantil. Há também uma boutique que vende produtos com a marca da Casa, um botequim com comidas deliciosas e até um brechó.
“Temos uma vida muito boa por aqui. Café da manhã, almoço, lanche e sopa. O Retiro tem uma despesa muito grande. Tomara que este projeto consiga trazer um dinheirinho para podermos abrigar mais gente precisando, sem família”, conta a atriz Isa Rodrigues (foto), que mora há dois anos em uma das casas do Retiro.
Segundo Isa, o sucesso do Retiro se dá devido ao empenho do ator Stepan Nercessian (foto), atual presidente da entidade. “Ele se dedica o quanto pode, é muito generoso”, afirma.
Mais de 700 artistas já viveram neste recanto maravilhoso, que fica em um terreno arborizado de 14 mil metros quadrados, em Jacarepaguá, zona oeste do Rio de Janeiro. Hoje vivem lá 52 artistas, entre eles o palhaço Cocada (foto), a atriz Claire Digonn, o ator e artista plástico Fernando Otero Gonzales, ambos com 70 anos, entre outros. Ocupando casas coloridas, eles cuidam de suas residências e de si próprios. Apenas sete deles precisam de cuidados especiais e ficam na enfermaria.
“Temos um gasto superior à R$ 75 mil mensais e temos buscado apoio da iniciativa privada, dos amigos e também dos empresários para que nos ajude a aumentar nossas instalações, que dia após dia tem ficado insuficiente já que temos uma boa fila de espera”, destaca Nercessian.
Acredito que a história da Casa dos Artistas e o fato de ela existir e estar ativa até os dias de hoje, serve como um grande exemplo para todos nós, artistas da vida ou dos palcos, mostrando-nos como é importante buscarmos nossos direitos e nos solidarizarmos, através de um grupo unido, seja um sindicato, ou através da formação de grupos comunitários em nossos bairros, igrejas, associações, clubes, ou até mesmo em nossas casas, com nossos amigos e vizinhos.
Coordenadora Geral do Portal Terceira Idade, Pesquisadora do Envelhecimento, Pedagoga e Jornalista (API, Assoc. Paulista de Imprensa: Reg. 2152) (clique aqui para falar com a colunista)