Fui assistir ao desfile do estilista mineiro Ronaldo Fraga apresentado no último SPFW – São Paulo Fashion Week. Depois tive a chance de ouvir sobre a coleção em um bate-papo proposto por um dos patrocinadores. O tema do desfile foi construído em cima da peça teatral “Giz” de 1988, escrita por Álvaro Apocalypse, um dos fundadores do grupo de teatro de bonecos Giramundo. A emoção tomou conta dos que assistiram a apresentação. Elementos lúdicos como os bonecos, a leveza e descontração dos modelos da terceira idade e das crianças foram arrematados pela deliciosa trilha sonora.
Ronaldo Fraga é um estilista com uma trajetória consistente. Segundo a mídia especializada mistura humor, ousadia e crítica social. Os desfiles de suas coleções são sempre bem arquitetados e costuram referências de forma original.
No bate-papo, o estilista foi parabenizado e interrogado sobre o motivo de usar tão simpáticos modelos no desfile. Ele então contou uma história que acho interessante colocar aqui. Certa vez uma funcionária de uma de suas lojas reportou uma curiosa abordagem de uma compradora. A cliente, uma senhora com seus 60 e poucos anos, entrou na loja e requisitou a vendedora determinadas peças dizendo que eram para sua filha. Depois de tudo acertado a senhora confessou que na verdade as roupas eram para ela. Por receio de não ser bem atendida ou da vendedora não mostrar tudo o que tinha de opções, ela teria inventado a desculpa.
Várias senhoras que ouviram a história manifestaram entender a situação de receio de comprar numa loja aparentemente jovem. E aí está o ponto defendido pelo estilista: moda não é só para jovens. A preocupação que o estilista deixou transparecer é de tornar o gosto pelo ato de vestir acessível a todos. O desfile concretizou de forma única essa atenção. As crianças, e modelos de terceira idade exibiram a coleção suavemente, sem afetação e sem imposição. Pareciam confortáveis e com orgulho das peças. As tendências não deixaram de ser mostradas e o trabalho de modelagem ganhou força.
A peça “Giz” que serviu de inspiração para o desfile tem como mote o desamparo e o abandono, o cenário com móveis cobertos de lençóis brancos e bonecos igualmente alvos transmitiam essa sensação. A peça fala de memória e coloca o traço de giz representando a vida do seu início ao fim – por isso o estilista optou pelas crianças e idosos. Além disso, ele se inspirou no movimento humano em um aeroporto, o ir e vir das pessoas e a vida representada por esse movimento natural. Os modelos caminhavam na passarela, acenavam para o público e sorriam.
O desfile e a história contada pelo estilista parecem ideais para uma primeira coluna no portal. Ronaldo Fraga mostrou que a elegância independe de estilo e de idade e devemos sempre lembrar disso.

Redação do Portal Terceira Idade (clique aqui para falar com a equipe de redação do Portal Terceira Idade)