Vocês já leram um livro intitulado “Perdas necessárias”? Não é um livro de auto-ajuda. Nem tão pouco uma obra recente. É, de fato, uma reunião de ideias sobre as perdas que inevitavelmente temos ao longo da vida: mortes, separações, términos, partidas, perdas de ilusões e sonhos, e a perda do “eu jovem”.
A autora, Judith Viorst (foto), publicou o original em inglês no ano de 1986 e eu ganhei de uma amiga psicóloga, em 1998, um exemplar traduzido para o português pela editora Melhoramentos. Naquele ano eu havia acabado de entrar na UNICAMP por ocasião do início do meu mestrado e ainda não tinha a dimensão da importância desta leitura para o meu processo de amadurecimento.
De lá para cá, perdi minha mãe, perdi meu emprego, minha filha cresceu (e, portanto perdi meu bebê), perdi a juventude, perdi alguns amigos que se afastaram quando meu marido ficou doente e perdi algumas esperanças e ilusões quanto a novos trabalhos.
Ao ler (e também reler) “Perdas necessárias”, sinto-me duas vezes grata: àquela amiga que me presenciou e à autora que me apresentou outra perspectiva de encarar as experiências de perdas que a vida me propiciou.
Segundo Viorst, “essas perdas são necessárias porque, para crescer, temos de perder, abandonar e desistir” e “não se pode ser um indivíduo separado, responsável, com conexões, pensante, sem alguma desistência, alguma renúncia”.
Parece, a princípio, uma visão um tanto quanto simplista da vida… Longe disto, os capítulos são recheados por conteúdos extraídos das obras de Simone de Beauvoir, Shakespeare, Emily Dickinson, etc.
Imagino que há pessoas que passaram, por exemplo, pela aposentadoria e perderam seu status, poder e prestígio. Deixaram de ser a Maria da escola; o José do banco e o Chico da empresa. Talvez por isso estejam agressivos ou mesmo deprimidos.
Convido-os, leitores, a pensar neste momento como uma fonte de libertação e alívio, pois é chegada a hora de sermos o que exatamente somos e não aquilo que a nossa profissão nos faz ser. Isto é, aquele pensamento que se traduz em: “tenho que ter um emprego, do contrário, quem vou dizer que sou quando vou a uma festa?”.
Quem sabe, ao ler este livro, tais pessoas possam encarar-se de frente (agora sem a máscara e o figurino típico e “adequado” a cada local de trabalho) e desnudar-se a fim de ter a possibilidade de reconhecer-se novo e renovado.
As perdas são um tema universal! Quem não perdeu, atire a primeira pedra! Quem vive e busca alcançar a maturidade e o equilíbrio psicológico sabe que “embora o curso de nossa vida seja marcado por repetições e continuidade, é também extremamente aberto a mudanças”, como nos ensina Viorst.
Hoje não me permito dizer que a vida é só perda! As perdas e os ganhos se alternam e em resposta a esta dinâmica, seguimos em frente!
Pós-doutora em Gerontologia (USP), Doutora em Educação (UNICAMP) e Docente da Universidade Federal de São João Del-Rei (UFSJ) (clique aqui para falar com a colunista)