A pergunta que serve como título para este artigo pode gerar várias reflexões. Se o corpo fala, por que muitas vezes não conseguimos ouvi-lo? Se não fala, por que há tantos livros e estudos científicos sobre o tema? E mais ainda: Conhecemos realmente o nosso corpo? Damos a devida importância para o que ele expressa? O corpo tem uma linguagem? Se tiver uma linguagem como poderemos ter acesso a ela?
O livro “O corpo fala”, escrito por Pierre Weil e Roland Tompakow, procura mostrar aspectos muito peculiares relativos ao nosso corpo e à forma como lidamos com ele. Foi lançado em 2001 pela editora Vozes e talvez muitos de vocês, leitores, já conheçam a obra.
O corpo, como nosso referencial de vida, nosso estar presente no mundo, tem suma relevância no campo da Gerontologia. Mas não me refiro aqui ao corpo simplesmente considerado “matéria”, mas ao corpo que necessita de vida, e expressa a vida em todos os momentos na interação com a sociedade por meio, principalmente, de seus movimentos.
Temos um corpo ou somos um corpo? Se acreditamos que somos um corpo, não podemos tratá-lo como um objeto ou uma máquina. O corpo está sempre em transformação e a consciência que temos dele é alcançada quando o vivenciamos. Não podemos ter consciência corporal se não vivenciarmos o corpo. Esse vivenciar é tanto biológico, social, psicológico, como cultural.
Não podemos aceitar a ideia de que apenas um corpo siliconado, “bombado” ou lipoaspirado tem valor, pois, desse modo, estaremos negando o que somos e a história de vida que construímos e que está registrada em nosso corpo.
Na mídia, muitas vezes as propagandas associam o corpo saudável, ou erotizado, a um determinado produto visando aumentar o consumo. Isto provoca uma preocupação excessiva com o corpo de acordo com o que a sociedade determina como padrão de beleza. E o corpo envelhecido não “cabe” nesse padrão.
Sabe-se que as interações incessantes com os outros e com o ambiente, por meio da linguagem corporal – oriunda do movimento desse corpo em função das demandas sociais, culturais, biológicas, históricas e psicológicas – promovem o que se entende por “consciência corporal”. E é esta consciência que a obra “O corpo fala” desperta em nós. Vamos ler?
Pós-doutora em Gerontologia (USP), Doutora em Educação (UNICAMP) e Docente da Universidade Federal de São João Del-Rei (UFSJ) (clique aqui para falar com a colunista)