No dia 9 de abril, o ator e cineasta brasileiro Amácio Mazzaropi faria 100 anos. Seu personagem de caipira amável e ingênuo foi visto por mais de 1 milhão de espectadores durante a sua carreira no cinema.
Nascido no bairro da Barra Funda, em São Paulo, Mazzaropi iniciou a carreira no cinema com “Sai da Frente” (1952), comédia dirigida por Abílio Pereira de Almeida, que dirigiria, depois, outros filmes com o ator. Desde então participou do imaginário popular brasileiro com comédias leves, muitas vezes ingênuas, mas que revelam inteligência e generosidade por trás de suas histórias simples de pessoas simples.
A maior parte de sua produção está nos anos 1950 e 1960, quando rodou alguns de seus melhores filmes: “Zé do Periquito”, “O Lamparina”, “O Corintiano” e “O Puritano da Rua Augusta”. Mas foi em “Candinho” (1953) que ele aparece pela primeira vez como o famoso caipira.
“Jeca Tatu” (1959; trailer do filme acima), de Milton Amaral, foi um de seus filmes mais famosos – e talvez o mais bem-sucedido –, com o personagem do caipira sendo aperfeiçoado e se tornando maior do que o próprio criador: o caipira cheio de preguiça e malemolência, mas também de simpatia e bom coração. Após esse filme de enorme sucesso de público, Mazzaropi atingiu a maturidade como persona cinematográfica. Sua presença em cena passou a ser sempre muito consciente da potência que emana de seus personagens.
O ator começou a dirigir seus próprios filmes em 1960, na antiga Vera Cruz. No entanto, os estúdios preferiam investir alto nos chamados filmes de arte, muito parecidos aos europeus, e não entendiam bem por que produções modestas como essas faziam tanto sucesso.
Mazzaropi entendia, e depois do terceiro filme abandonou a Vera Cruz para abrir sua própria produtora, a PAM (Produções Amácio Mazzaropi), desfeita somente quando ele morreu, em junho de 1981. Na PAM ele produziu e dirigiu os 24 longas-metragens, nos quais atuou consolidando como quis o seu personagem caipira de fala arrastada, camisa xadrez sempre abotoada até o pescoço, paletó apertado, calças curtas sobre botas de cano curto e um toco de cigarro no canto da boca. A figura do caipira do interior, bondoso e ingenuamente maroto, arrastava multidões aos cinemas. Seu público sabia que, invariavelmente, todo dia 25 de janeiro havia no Cine Art Palácio, em São Paulo, a estréia de mais uma aventura do Jeca.
Não demorou muito para Mazzaropi tornar-se um invejado produtor milionário. Os críticos limitavam-se a ver nele apenas o empresário bem-sucedido, e, depois, ignoraram seu trabalho por completo. “Bom filme é filme que o povo gosta. Tudo o que tenho devo ao meu público. Quando eu morrer, tudo isto vai ficar para o cinema nacional”, respondia Mazzaropi.
Mas a melhor explicação para o fenômeno Mazzaropi foi dada pelo escritor e crítico de cinema da Folha de São Paulo Inácio Araújo: “A crítica nunca esteve com ele porque Jeca representa o Brasil subdesenvolvido, analfabeto, que ela não quer ver. Para o público, ele representa a vingança dessa massa de migrantes que vem do campo e se defronta com os códigos da cidade grande. É a malícia do campo contra a malícia da cidade. E a primeira ganha”.
Em comemoração ao centenário de seu nascimento, a Cinemateca Brasileira (São Paulo-SP) e o Instituto e Museu Mazzaropi (Taubaté-SP, cidade para onde se mudou quando criança) apresentam retrospectiva de seus filmes, além de eventos, com shows, debates, exposição e apresentação de filmes em praça pública (confira a programação nos links abaixo).
Coordenadora Geral do Portal Terceira Idade, Pesquisadora do Envelhecimento, Pedagoga e Jornalista (API, Assoc. Paulista de Imprensa: Reg. 2152) (clique aqui para falar com a colunista)