Recentemente, foi comemorado o Dia Nacional do Livro. Hoje, casualmente, vi em um jornal duas matérias sobre o tema, as quais, infelizmente, me lembraram que vivemos em uma “Aquarela de Brasis”.
A primeira matéria comentava sobre a importância da leitura, a necessidade de conscientizar os pais a participarem deste processo junto com seus filhos, o cuidado que a família deve ter ao escolher uma escola privada que tenha uma biblioteca atraente e professores preocupados com a leitura.
Logo fiquei intrigada. Por que o autor da matéria frisou “uma escola privada”? E as escolas públicas? Já estão tão bem resolvidas quanto a esta questão? Será que eu não estou sabendo? E os livros? Estão tão fáceis de comprar?
Bem, deixando um pouco de lado estes pequenos grandes detalhes, é bom lembrar que a média de leitura por pessoa no Brasil é de um livro por ano!
Continuei folheando o jornal e, para minha surpresa, vi uma notícia incrível: “Catadora cria biblioteca com obras encontradas no lixo”. A catadora de recicláveis, Cleuza de Oliveira, 47 anos, semi- analfabeta, moradora de uma cidade a 455 km de São Paulo, conseguiu realizar seu sonho: criou uma biblioteca dentro da Associação de Catadores, que fica localizada no centro de triagem do lixo.
“Meu sonho era montar uma biblioteca para que todos pudessem ler. De tanto ver livros jogados no lixo, de autores como Machado de Assis, José Saramago, entre outros, comecei a juntá-los. Hoje, temos um acervo com mais de 300 títulos”, comenta Cleuza, na matéria.
Em qual Brasil vivemos? No das escolas privadas, que costumam ter uma biblioteca e, na maioria das vezes, subutilizada? No Brasil dos comerciais lindos que mostram um país quase perfeito? Ou no Brasil que depende de milagres e pessoas iluminadas como Cleuza, a catadora de lixo, para colocar em prática o que já deveria existir há muito tempo?
PS 1: Cleuza de Oliveira garante que todos os livros da biblioteca são emprestados gratuitamente.
PS 2: Ela recebe um salário de 500 reais por mês!
Coordenadora Geral do Portal Terceira Idade, Pesquisadora do Envelhecimento, Pedagoga e Jornalista (API, Assoc. Paulista de Imprensa: Reg. 2152) (clique aqui para falar com a colunista)