Passa pela minha cabeça, e talvez pela de outros leitores, a pergunta: “e quando o feminino envelhece?”.
É fato que o envelhecimento é um processo natural que não escolhe os indivíduos. Todas nós, mulheres, sentimos seus efeitos. A questão primordial é como lidamos com isso.
De modo geral, a mídia insiste em apresentar modelos que nos remetem à juventude eterna: corpos siliconados, lipoaspirados, magros e belos. Buscar libertar-se da ideia de um padrão único de beleza é uma das reflexões que as mulheres do século 21 precisam trazer à tona.
Mais idosas do que idosos
A mulher tem direito a envelhecer com saúde física, mental e qualidade de vida. Sabe-se que no Brasil há um número maior de idosas do que de idosos. Ao afastar-se do mundo do trabalho, as mulheres idosas, muitas vezes, se vêem envolvidas com um novo papel social: o de avós e, portanto, de cuidadoras. Mas será que todas as idosas brasileiras têm esse perfil estereotipado?
“Eu quero ser uma avó igual a minha avó…”
No livro “Minha avó já foi bebê!” (reprodução da capa ao lado), a personagem da neta “Mariana” dá início à história falando que adora sábado porque é o dia de passear na casa da avó.
Na situação apresentada no texto, uma surpresa a esperava: “Hoje a vó Estela vai lhe mostrar uma coisa do fundo do baú!”. Então a personagem idosa retira do armário um álbum grande e pesado escrito na capa “Álbum do bebê”.
A menina se surpreende com as fotos e diz: “Ih, vó, eu sei que nos dias de hoje as avós não são mais aquelas velhinhas corocas de óculos e cabeça branca, mas ver minha própria avó de fraldas também já é demais, né?”. As duas seguem vendo as fotografias e a história termina com a fala de Mariana: “Eu quero ser uma avó igual a minha avó!”.
Refletir sobre a condição feminina na velhice é também debruçar-se sobre a necessidade de reconhecer a importância da mulher na família representada pela maternidade, pelos cuidados aos filhos, à casa e ao cônjuge, cuidados pelos quais são responsáveis até a velhice, quando se tornam cuidadoras também de outros idosos e dos filhos e netos de mulheres jovens que têm que sair de casa para trabalhar. É também pensar que avós são “modelos” de comportamento para seus netos.
Esta história pode ser o princípio de uma conversa ao pé do ouvido entre avó e neta, pois quando o feminino envelhece, a gente amadurece e vê a vida com outros olhos! Boa leitura.
Fotos/ilustrações: divulgação
Pós-doutora em Gerontologia (USP), Doutora em Educação (UNICAMP) e Docente da Universidade Federal de São João Del-Rei (UFSJ) (clique aqui para falar com a colunista)