‘A noite”
A luz do sol caminhou mais mansa nas veredas da aurora, engoliu lentamente a noite, não havia pressa… contrafeito o dia em sua luz revelaria verdades que a noite em sua eterna prontidão amante parira. Amores furtivos, sorrateiros, amores amantes, proibidos, castos, pervertidos, amores bandidos, fugazes, falsos e baldios, amores enfim reais ou virtuais. Desnudaria em realidades indesejadas, o mundo que o homem criara entre o teclado e a tela do monitor. Deixaria sombreado de ouro, seus cabelos grisalhos que viviam enluarados.
Esta era a tarefa do dia, desfazer em luz os fantasmas e sonhos que se criaram na noite. A luz crua do sol revela suas mãos salpicadas pelas manchas da idade, já não mais construtoras de carinhos virtuais, apenas digitadoras precisas de e-mails, cartas comerciais, comunicados, pesquisas.
A mulher amada da madrugada, pedra preciosa revela-se sem brilho, apenas mais uma pedra no seu caminho. Tirava o pó do dia anterior, para arquivar na memória destinada aos sonhos. Quando o sol os destruiu, sentiu uma paz triste ao olhar o nada de seus sonhos. Desvestiu-se de si, encarnou o personagem que a vida lhe reservara, ele, seu monitor, a CPU piscando sua memória eletrônica e um vazio na alma.
Não havia espaço para “Josés” poetas no mundo desvirtuado da vida, ficavam as pedras … morria José… até que a noite quem sabe a lua o encantasse de novo, ou o arrebatasse da vida.
José Carlos Dias, que recebeu o título de Honra ao Mérito no concurso ´O que é envelhecer para você?´, promovido pelo Portal em nov/2010, com o texto “O importante é que nossas emoções sobrevivam”, passa a escrever regularmente nesta seção
Fotos/ilustrações: divulgação