oleitor terá que permitir a este colunista arriscar algumas considerações sobre o que entende ser uma das únicas datas comemorativas que ainda conservam a sinceridade original de sua criação. O dia do idoso é, de verdade, uma homenagem a seu dono, desvinculada e despida da distorção de foco e interesses que contamina a maioria das datas comemorativas. O comércio!!
O dia do idoso tem um tom diferente. Sua criação soa uma espécie de sinal, ainda que incipiente e embrionário, de alguma consciência social, através da qual realmente se constituiu um dia para valorizar e enaltecer as conquistas em prol do idoso, e não para vender bugigangas e bombardear as pessoas com mais propaganda do que conseguem assistir. Um dia para relembrar, honestamente, as pessoas que realmente contribuíram para construir o país, a família e a nós mesmos. Um paradoxo em si mesmo. Louvável em sua existência, pois foi reconhecida a importância de seu homenageado. Lamentável pela necessidade de sua criação, já que deveria ser ato espontâneo.
Digo lamentável porque me lembro de lugares como o Japão, onde a “batchan” é respeitada e valorizada por seus anos vividos e experiência que pode ensinar. Coisa que os nipônicos aprendem de berço. Cultura inata. Diferente de nosso Brasil brasileiro, o “mulato inzoneiro”, que parece só ter olhos para a “garota de Ipanema”, mas quando ela enruga já perde o interesse. Talvez seja por conta de nossa pouca idade como nação, perto dos milênios asiáticos. Quem sabe o que nos falta não são anos vividos como sociedade, para aprender a valorizar os mais vividos também… Há coisas que só a passagem do tempo concede.. a beleza da profundidade do olhar, a calma do sorriso, a maturidade espiritual enquanto povo. Devemos sim comemorar este dia, como uma bela tentativa de combater nossa aparente tendência à superficialidade e ao louvor desmedido a um conceito equivocado de “juventude”, como se fosse sinônimo de pouca idade.
Ode
Embora eu, particularmente, considere as datas comemorativas uma triste exaltação ao nosso fracasso em realizar o óbvio por conta própria, quase uma Ode* a nossa incapacidade inata de valorizar certas coisas e pessoas, chegando a soar absurdo que se tenha que fazer uma lei que fixe um dia para lembrar-se da própria mãe, pai, nascimento de Cristo e outras, vejo no dia do idoso uma luz no fim do túnel.
Comemoremos o dia do idoso!! Celebremos esta data tão sincera e verdadeira, em homenagem a igualmente valorosas pessoas. Mas façamos isto rápido. Antes que alguém perceba o nicho comercial e deforme este dia, usando nossa culpa implícita para nos fazer comprar mais bugigangas. Este dia deve sim ser usado como alavanca para elevar nossos princípios morais, para servir de trampolim cultural lançando a nossa sociedade a um patamar mais humano e solidário, onde o idoso venha a galgar sua merecida posição de destaque.
Não façamos deste dia mais uma Ode ao óbvio.
Amem… ou Amém….. como queiram.
*Ode: (do dicionário Michaelis) (substantivo feminino) Composição poética do gênero lírico em que se exaltam atributos de homens ilustres, o amor e outros sentimentos
Fotos/ilustrações: divulgação
Advogado, trabalha com causas cíveis, familiares, empresariais e trabalhistas na Advocacia Assessoria Jurídica (OAB/SP 220.148) (clique aqui para falar com o colunista)