há pouco tempo li um livro que me atraiu muito a atenção. De fácil leitura – consegui lê-lo inteiro em dois dias – o livro me fez refletir sobre o modo como as pessoas chegam à 3ª idade – e como passam por ela. Por isso, resolvi fugir um pouco do tema da minha coluna, e expor a vocês um pouco sobre a minha impressão sobre o que li.
Escrito pela autora Léa Maria Aarão Reis, o livro “Novos Velhos – Viver e Envelhecer Bem” é muito interessante e, apesar de ser voltado ao público idoso, se encaixa para todas as pessoas que pensam em qualidade de vida. Ela soube inserir no livro, de maneira delicada e objetiva, os aspectos diários das questões dos idosos e como saber viver na “melhor fase da vida”.
Para alguns, a fase da “terceira idade” é muito assustadora e, por isso, não é bem vista pela maioria da população, já que tudo se torna mais complexo e dramático. Porém, importante destacar que os “novos velhos”, ou seja, os velhos de hoje, não se veem como velhos, e conseguem encarar essa etapa da vida como qualquer outra, lembrando que há muito que viver, ainda.
Santo Agostinho já dizia que começamos a envelhecer assim que nascemos, por isso, saber envelhecer passa então a ser saber viver. Somos jovens em todas as fases da vida, porque nunca passamos por elas. Então, não vale a pena ter preconceitos, aliás, as pessoas não devem agir como se não fossem ficar velhas.
José Saramago retrata que a juventude não sabe o que pode e a velhice não pode o que sabe, ou seja, que ambas se interdependem e se completam.
Não é razoável que haja discriminação dos mais jovens com os mais velhos. Apesar desses terem vivido muito, eles ainda tem muito o que viver, ainda mais que, atualmente, o Brasil tem cada vez mais idosos, uma vez que as pessoas estão vivendo cada dia mais, em razão das novas técnicas de tratamentos médicos, etc.
No entanto, tal situação nos leva a pensar nas condições que esses idosos vão viver. Quem cuidará deles? Os filhos que também, por vezes, são idosos? Hoje, 15,2% dos idosos não conseguem realizar as atividades básicas diárias, ou seja, 3,2 milhões de indivíduos dependem de outra pessoa para auxiliar na rotina diária.
Os idosos que podem exercer suas atividades diárias de forma normal optam por continuar exercendo a profissão, já que a aposentadoria não se faz suficiente para arcar com as despesas mensais. Entretanto, uma parcela de idosos que decide não trabalhar mais, por já ter laborado muito tempo, tem que reduzir o padrão de vida para que seja possível arcar com as despesas mensais apenas com o valor pago a título de aposentadoria.
Apesar do valor da aposentadoria não ser suficiente para muitos idosos, alguns tem condições financeiras estáveis e, portanto, ainda, tem-se o cenário de que os idosos apóiam mais os jovens do que o contrário, inclusive, em termos de sustento, já que quando o idoso sustenta o mais jovem todos ficam felizes, mas quando o mais jovem tem que sustentar o mais velhos, ambos choram. O que sustenta pela obrigação de sustentar e o que é sustentado, pela humilhação de depender do outro. Quem sabe essa seja a real razão que os idosos escolhem viver sozinhos, já que apenas 12% residem com algum familiar.
Faz-se necessário criar políticas públicas que viabilizem uma estruturação do Estado para suprir as necessidades das pessoas idosas, já que a responsabilidade é da sociedade como um todo e, também, do Estado que deveria cuidar, pelo menos, das pessoas mais necessitadas, amparando-as em tudo que fosse necessário, uma vez que muitas já fizeram muito pelo nosso país.
A autora retrata o medo de viver que alguns idosos têm e, ao mesmo tempo, o prazer de aproveitar a vida que outros tantos decidem fazer, já que, apesar de ser uma fase que antecede a morte, é preciso lembrar que a morte valoriza a vida e, portanto, todos precisamos aproveitar cada instante da melhor maneira possível. Por isso, os mais jovens, ao invés de terem preconceitos, devem se espelhar nos mais velhos para saber viver intensamente, como só os idosos sabem.
Fotos/ilustrações: divulgação
Advogada pela Universidade Positivo (PR), atualmente exerce Direito em Washington, EUA (OAB/PR 55.089) (clique aqui para falar com a colunista)