Em 1957, quando a maior parte das edificações de Brasília ainda estava sendo projetada e sua construção mal havia começado, realizar um parto era uma tarefa quase impossível. A futura capital do país ainda não tinha hospitais e os partos eram realizados em acampamentos, dentro de barracos sem água nem luz.
Naquele cenário inóspito, despontava Cacilda Bertoni, nascida em Piracicaba (SP), hoje com 90 anos, a primeira enfermeira a fazer partos na capital da República.
Em dezembro daquele ano, aos 38 anos, com o marido e os dois filhos pequenos, o terceiro nasceria anos depois, ela desceu de um caminhão naquela cidade que ainda era só terra vermelha, sem saber o que o futuro lhe reservava. Durante o curso de enfermagem no Rio de Janeiro, Cacilda, ainda moça, não imaginava que, por suas mãos, viriam ao mundo mais de 800 crianças.
Hoje, Cacilda fala com saudades dos tempos em que os maridos das gestantes a tiravam de casa no meio da noite para realizar os partos. Para chegar até os acampamentos dos operários que construíam Brasília, só de jipe ou caminhão. “Não era nada confortável, nem mesmo seguro”, lembra Cacilda.
Ela se orgulha de nunca ter perdido um bebê que ajudou a nascer. “Havia complicações, não tínhamos água encanada, energia elétrica ou hospitais. Os partos ocorriam dentro de barracos”, diz.
A enfermeira trazia ao mundo filhos de gente rica a pessoas muito pobres. “Tudo com a mesma sensação de responsabilidade”, destaca. Em certas ocasiões, chegou a fazer nascer três crianças em uma mesma noite. “Eram filhos de deputados, engenheiros e operários, todos com a mesma qualidade de serviço”, diz.
Em 1961, Cacilda deixou de realizar partos para chefiar a equipe de enfermagem do recém-inaugurado Hospital Distrital. Mas, mesmo depois do fim da carreira como parteira, as pessoas continuaram a bater na porta da casa de Cacilda para pedir ajuda durante muito tempo.
Com 90 anos completados em julho, Cacilda dá a receita da lucidez e da longevidade. “Basta trabalhar muito”, garante.
Coordenadora Geral do Portal Terceira Idade, Pesquisadora do Envelhecimento, Pedagoga e Jornalista (API, Assoc. Paulista de Imprensa: Reg. 2152) (clique aqui para falar com a colunista)