Manoelita Valim Rodrigues foi uma das primeiras árbitras de futebol de salão no Brasil. Tudo começou porque era treinadora dos filhos. Um árbitro achou curioso e a convidou para fazer o curso. Proibida de apitar partidas oficiais simplesmente por ser mulher, trabalha hoje como anotadora.
Nada incomum, não fosse o fato de Dona Manoelita, como é conhecida, ter 79 anos. Entre todas as atividades que preenchem sua agenda diária – Manoelita cozinha, costura, gosta de ir ao cinema, teatros, pratica yoga e tai-chi – ela ainda acha tempo para se doar para pessoas que necessitam de ajuda.
Mãe de dois filhos, hoje viúva e aposentada, Manoelita visita, diariamente, pessoas idosas e acamadas em hospitais, dedicando várias horas de seu dia para lhes fazer companhia, além de levar comida e roupas para desabrigados nas ruas. O largo sorriso em seu rosto não esconde sua felicidade em cada gesto que faz. Com um vigor e energia incomuns na sua idade, ela ainda faz questão de fazer todos os seus trajetos diários a pé.
Eleita madrinha do Portal Terceira Idade desde o seu lançamento, em 2006, Manoelita já foi entrevistada por Jô Soares e pelo Jornal do SBT (veja links abaixo, em ‘mais sobre o assunto’).
Leia, abaixo, a entrevistacarinhosa que Dona Manoelita concedeu ao Portal:
Portal Terceira Idade: Dona Manoelita, como começou sua vida de árbitra?
Dona Manoelita: Tudo começou porque eu gostava de acompanhar meus dois filhos nos jogos de futebol de salão. Eu tenho origem portuguesa e o clube do bairro onde eu morava “casualmente” chamava-se Portuguesinha… Era pequeno, mas a molecada jogava muito bem. Então eu me empolguei e comecei a treiná-los e a apitar os jogos.
Portal: E o seu marido não achou estranho?
Manoelita: Muito pelo contrário, ele me deu o maior apoio! E foi aí que, durante um dos vários jogos que eu estava apitando, um técnico da Federação de Futebol de Salão de São Paulo viu o meu trabalho e me convidou pra trabalhar como anotadora dos jogos da Federação, pois, naquela época, mulher não podia ser árbitra.
Portal: E você aceitou?
Manoelita: Resisti um pouco, mas ele acabou me convencendo. Em 1980, iniciei minha carreira com anotadora e cronometrista e olha no que deu… Nunca mais abandonei a profissão e amo muito o que eu faço.
Portal: E nos dia de hoje, como é a situação das mulheres na arbitragem? Existe o preconceito?
Manoelita: Bem, infelizmente o preconceito existe em muitas situações. E no Futsal não é diferente. Mas nós, mulheres, já ganhamos um grande espaço na Federação de Futsal de São Paulo e do Brasil. Desde 1997, as mulheres já podem estudar para serem árbitras e, além disso, já existe um número enorme de times femininos e que jogam muito bem!
Portal: Eu soube que, além do Futsal, você participa de muitas atividades esportivas e sociais. De onde você tira tanta energia?
Manoelita: Eu costumo dizer que “um coração alegre floresce todos os dias”, e o meu é assim, faço tudo com muito amor e alegria. Para ficar em forma, pratico Yoga, Tai-chi, adoro viajar, ir ao cinema, estar por dentro dos eventos culturais, mas também sinto que é importante usar meu tempo e a minha saúde e energia para ajudar as pessoas.
Portal: Como você faz isso no seu dia a dia?
Manoelita: Nesse momento, estou cuidando de um grupo de idosos que estão doentes e precisam de cuidados, remédios, marcação de consultas, e não têm ninguém que faça isso por eles.
Portal: Mas você tem apoio de alguma entidade beneficente?
Manoelita: Bem que eu gostaria, mas não tenho, faço tudo sozinha. Vou de ônibus, ando a pé, busco remédios nos hospitais públicos, marco consultas para eles e, claro, dedico meu coração e meu amor.
Portal: Você surpreende a todos a cada minuto da nossa conversa! Mas eu soube que têm mais coisas boas que você faz…
Manoelita: Outro trabalho que eu amo é treinar técnicos para ensinarem deficientes visuais a jogarem Futsal. É incrível a sensibilidade aguçada que eles têm e, como jogam tão bem quanto qualquer um, o importante é não ter preconceito e, sim, humildade para nos adaptarmos às condições de cada ser humano.
Portal: Para qual time você torce?
Manoelita: Adoro todos os times, mas com certeza torço pela Portuguesa!
Bem, aprendi muito com a postura e as palavras de Dona Manoelita. Antes de nos despedirmos, casualmente lhe perguntei: “Você mora com seus filhos?”. Ela me respondeu: “Eles é que moram comigo!”.
Coordenadora Geral do Portal Terceira Idade, Pesquisadora do Envelhecimento, Pedagoga e Jornalista (API, Assoc. Paulista de Imprensa: Reg. 2152) (clique aqui para falar com a colunista)