“Sempre admirei os grafites feitos por essa gente nova. Alguns fazem rabiscos a vida toda, mas outros se aperfeiçoam. Eu nunca tinha me imaginado assim, no meio da cidade, pintando uma parede. Aconteceu.”
A afirmação é de Eduardo Machado, 70, que depois de aposentado passou a fazer parte do projeto Lata 65, na cidade de Lisboa, em Portugal.
Trocou as agulhas de crochê por latinhas de spray
A ideia, que começou como uma oficina de grafite voltada a idosos portugueses, tem crescido naquele país – no Brasil, houve uma edição do projeto no Sesc Santana, em São Paulo, em setembro de 2015.
Maria Cruz, 62, uma das participantes do projeto, não tinha contato algum com as artes. Mas, há dois anos, ela trocou as agulhas de crochê pelas latinhas de spray e pintou um muro em Lisboa. “Eu estava me sentindo longe de tudo, um bocadinho depressiva”, afirma, alegre por dedicar-se ao desafio de cortar moldes e grafitar a cidade.
A alegria que ela relata é um dos objetivos do projeto Lata 65, cofundado em 2012 pela arquiteta Lara Seixo. Outra das metas é devolver idosos ao espaço público. “As cidades estão bombardeadas pela arte urbana. É uma questão de inclusão, porque eles passam a entender o que é feito na cidade deles”, diz Seixo.
Uma nova razão para viver
O projeto é financiado pela venda de merchandising, como camisetas. A própria logomarca do Lata 65 foi desenhada por uma participante, que passou a sair sozinha para pintar os muros e chegou a ser detida pela polícia.
A grafiteira, que faleceu no ano passado, era um dos exemplos dos resultados das oficinas de grafite, afirma Seixo. “Ela falava que demos a ela uma nova razão para viver, após um derrame”.
“As diferentes experiências e o aprendizado são benéficos para os mais velhos, porque nos mantêm atualizados”, enfatiza Isabel Paço, 63, do Porto, também participante do projeto. “Nos sentimos felizes, ativos, vivos, úteis.”
E você? Já escolheu a cor da sua latinha de spray?
Fotos/ilustrações: divulgação
Coordenadora Geral do Portal Terceira Idade, Pesquisadora do Envelhecimento, Pedagoga e Jornalista (API, Assoc. Paulista de Imprensa: Reg. 2152) (clique aqui para falar com a colunista)