Em janeiro de 2009, o Portal Terceira Idade lançou a Campanha “Seja um Cuidador Voluntário”, com o objetivo de formar uma lista, de abrangência nacional, com pessoas que queiram doar seu tempo para idosos e pessoas sozinhas que não tem mais a capacidade de cuidar de si mesmas. Hoje, centenas de voluntários(as) de todo o país fazem parte desta comunidade de amigos da 3ª idade.
No entanto, o Brasil ainda tem um número significativo de idosos que não disponibilizam de pessoas que dediquem seu tempo a eles. E esse número tende a crescer.
Pesquisa do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) aponta que cerca de 4,5 milhões de idosos – 1,3 milhão a mais do que em 2008 – terão dificuldades para exercer as atividades da vida diária nos próximos dez anos. Desse total, 62,7% são do sexo feminino.
Para Ana Amélia Camarano, coordenadora da área de População e Cidadania do Ipea, mesmo que a proporção de idosos com incapacidade funcional diminua como resultado de melhorias nas condições de saúde e de vida em geral, ainda assim, muito provavelmente cerca de 3,8 milhões de idosos vão precisar de cuidados de longa duração em 2020.
“O objetivo do estudo é levantar a discussão sobre de quem é, de fato, a obrigação de cuidar das pessoas idosas e se esse cuidado tem que se transformar em um risco social. A questão é se essas pessoas têm o direito ou não de ser segurado do Estado, como ocorre no caso da Previdência Social e da assistência à saúde”, ressalta Camarano.
A pesquisadora do Ipea lembra que a Constituição Brasileira, a Política Nacional do Idoso e o Estatuto do Idoso responsabilizam as famílias por esses cuidados. Segundo ela, o estudo apresenta argumentos para que o Estado e a iniciativa privada assumam e dividam com as famílias essa responsabilidade.
“Eu acho que o Estado tem, sim, que assumir uma posição mais efetiva na criação de mecanismos de proteção e cuidado das pessoas idosas. Porque a capacidade de as famílias desempenharem esse papel está diminuindo ano a ano e, paralelamente, aumenta a demanda. E alguém tem que assumir isso. A grande questão que se impõe é: esse é um risco social que o Estado deve assumir? Eu acho que sim, porque a perda da capacidade laborativa é um risco social decorrente da idade avançada. E o Estado já assumiu essa perda quando criou a Previdência Social e a aposentadoria por invalidez”, enfatiza.
Segundo Camarano, a ausência de uma política estruturada e articulada de cuidados formais do idoso, ponto de partida para as reflexões do estudo, faz com que, hoje, a família venha a desempenhar o papel de cuidar ou descuidar de aproximadamente 3,2 milhões de idosos sem praticamente nenhum apoio, seja do Estado ou do setor privado.
Coordenadora da Campanha “Seja um Cuidador Voluntário” do Portal Terceira Idade (clique aqui para falar com a colunista)