quando a acupuntura se tornou popular no Ocidente, muitas pessoas desacreditaram – e ainda não acreditam – sobre seus efeitos benéficos para a saúde humana e até de animais. Mas ao longo do tempo, através da observação detalhada, cientistas produziram evidências reais comprovando que os antigos chineses estavam no caminho certo.
Agora, uma nova pesquisa, publicada na revista Nature Medicine em fevereiro deste ano, revelou uma conexão direta entre o uso da acupuntura e os mecanismos orgânicos envolvidos que poderiam aliviar a sepse (infecção generalizada) – uma condição gravíssima que se desenvolve nas UTI’s (Unidades de Terapia Intensiva) dos hospitais – e que leva a uma resposta inflamatória disseminada e, muitas vezes, de difícil controle, levando muito frequentemente à morte.
“A sepse é a principal causa de morte nos hospitais”, comenta Luis Ulloa, imunologista da Faculdade de Medicina Rutgers, em Nova Jersey (EUA), líder do estudo. Segundo ele, “em muitos casos, os pacientes não morrem por causa da infecção. Eles morrem por causa da doença inflamatória que se desenvolve após a infecção. Por isso, o objetivo desse nosso estudo é procurar a melhor forma de controlar a doença inflamatória”.
A estimulação do nervo vago, através das picadas da acupuntura e da eletroestimulação dos acupontos, desencadeia uma reação em cascata no organismo que reduz a inflamação. Nesse estudo, os pesquisadores decidiram ver se a Eletroacupuntura, através desse e de outros nervos, poderia reduzir a inflamação e a lesão dos órgãos em ratos sépticos.
Ainda nessa pesquisa, uma sondagem ainda mais aprofundada mostrou que, quando os pesquisadores removeram as glândulas supra-renais, a electroacupuntura deixou de dar resultados, ou seja, sugerindo claramente que a acupuntura influencia o sistema endócrino e é por ele influenciada numa via bidirecional.
Efeitos benéficos da acupuntura continuam a surgir
Os pesquisadores ainda buscaram encontrar alterações específicas que ocorreram quando a eletroacupuntura foi realizada com o funcionamento das glândulas supra-renais. Estas alterações incluíram aumento dos níveis de dopamina, uma substância que tem funções importantes no sistema nervoso central e imune. Mas eles descobriram que a administração de dopamina ao organismo por si só não consegue conter a inflamação. Então, substituíram-na por uma droga chamada “fenoldopam”, que imita alguns dos efeitos mais positivos da dopamina, e, mesmo sem acupuntura, eles conseguiram reduzir as mortes relacionadas com sepse em 40%.
Por um lado, esta pesquisa mostra evidências neuroimunoendocrinológicas do alto valor terapêutico da acupuntura, e numa situação clínica que no Brasil mata o dobro do que nos países desenvolvidos. E, por extensão, essa pesquisa mostra potenciais benefícios, não apenas na Sepse, mas para o tratamento de outras doenças inflamatórias, como artrite reumatóide, espondiloartrite, artrose e doença de Crohn, só para citar algumas.
Por outro lado, a droga utilizada sem acupuntura ajudou a reduzir os casos de mortes em 40%, o que é significativamente importante para a medicina ocidental – que é majoritariamente medicamentosa – mas que, apesar dos antibióticos de ultima geração, lida com baixíssimos índices de sucesso em casos de Sepse.
Então, se unirmos os novos usos e achados para medicamentos já conhecidos da medicina ocidental com os benefícios igualmente já conhecidos da acupuntura e suas atuais utilizações, os resultados podem ser ainda mais animadores e salvar-se mais vidas no nosso país
Fotos/ilustrações: divulgação
Especialista em Acupuntura, Fisioterapeuta, Mestre em Ciência da Motricidade Humana (UCB-RJ), especialista em Neurociência aplicada à Longevidade (IPUB/UFRJ) e presidente da ABA-RJ (Associação Brasileira de Acupuntura do Rio de Janeiro) (clique aqui para falar com o colunista)