sempre utilizo este espaço do Portal para refletir a respeito de obras de literatura infantil que têm como personagens pessoas idosas. Hoje peço licença aos leitores para divagar sobre a questão das datas comemorativas, em especial, o Dia Internacional do Idoso, comemorado em 1º de Outubro.
Minha preocupação se concentra no AGEISM, termo que designa o preconceito etário. Penso particularmente na interação das gerações mais jovens com os idosos. De que maneira temos ensinado sobre respeito, ética e tolerância em nossas escolas? Será que o artigo 22*, do capítulo V do Estatuto do Idoso tem sido colocado em prática no cotidiano escolar? Ou será que este é apenas mais uma das leis que, como dizem no senso comum, “não pegou”?
Que eu saiba, as escolas acabam utilizando as datas comemorativas para lembrar, às vezes de maneira estereotipada, de pessoas e fatos que fazem e fizeram parte do contexto histórico cultural brasileiro. É o caso, por exemplo, do Dia do Índio, banalizado com a pintura nos rostos das crianças e, mais recentemente, do Dia da Consciência Negra, comemorado com concursos de penteados “rastafári”.
O mito da eterna juventude não nos permite comemorar a data nos vestindo como “velhinhos”, nem promovendo entre os mais jovens concursos de “coques”… Afinal de contas, quem, em sã consciência, quer ser ou parecer mais velho numa sociedade consumista como a nossa que cultiva valores que pouquíssimas vezes se aproximam da experiência acumulada com o passar dos anos.
Mas, da mesma forma que a data comemorativa pode traduzir uma atividade apenas pontual, sua importância não se esgota num “chá da tarde com vovós”. Esta parada pode ser pedagógica se significar um momento de reflexão profunda sobre como estamos sentindo os efeitos do envelhecimento populacional brasileiro.
É difícil imaginar que neste dia todos entrem em harmonia e passem, como por milagre, a respeitar os idosos. Mas, como esperamos uma sociedade cada vez melhor, acreditamos na mudança de atitudes em relação à velhice e desejamos que os conhecimentos gerontológicos contribuam para a quebra de paradigmas.
Vamos comemorar? Afinal de contas são 5 anos da publicação do Estatuto do Idoso, tempo suficiente para entender a importância destes sujeitos na construção de uma sociedade mais justa e respeitosa. E você, o que fará para comemorar esta data?
*Nos currículos mínimos dos diversos níveis de ensino formal serão inseridos conteúdos voltados ao processo de envelhecimento, ao respeito e à valorização do idoso, de forma a eliminar o preconceito e a produzir conhecimentos sobre a matéria
Fotos: divulgação
Pós-doutora em Gerontologia (USP), Doutora em Educação (UNICAMP) e Docente da Universidade Federal de São João Del-Rei (UFSJ) (clique aqui para falar com a colunista)