estive em Nova York duas semanas atrás e encontrei uma grande amiga, Christinne. Corretora de imóveis, ela atua no mercado americano há quase 20 anos, depois de ter sido aeromoça, vendedora de filtros de água e sacoleira de bugigangas para estrangeiros. Até setembro de 2008 dividia seu tempo entre o trabalho de corretora, os fins de semana em pescarias com amigos no Atlântico, as compras na sua loja favorita, a Bloomingdale, de artigos que nunca usaria e as férias em Santa Lúcia, no Caribe.
Com uma vida confortável, é natural que as palavras aposentadoria e desemprego nunca fizessem parte de seu dicionário. Sua única preocupação com a velhice se restringia em evitar que as rugas – um dos maiores tormentos das mulheres – denunciassem as marcas do tempo. Depois de incontáveis aplicações de botox e inúmeras plásticas, sua última cirurgia aconteceu há um ano, lhe custando a soma de 8 mil dólares.
Aí, então, veio a crise. Os clientes desapareceram, restando a Christinne, aos 74 anos, como herança, um déficit mensal de caixa, poupança zero e uma aposentadoria mensal do sistema publico de previdência americana de US$ 900, que não dá nem para pagar seu aluguel de dois mil dólares por mês. Sem saída, quebrada, requereu sua falência pessoal (“chapter seven”) e, nesta conversa, ela me disse que estava escolhendo a melhor forma de se suicidar.
Que lição podemos tirar disso? Ao contrário do que se imagina a história de Christinne não é um caso isolado e, assim como a maioria das pessoas no mundo inteiro, não há preocupação com o crepúsculo da vida. O envelhecimento pode parecer algo perverso, mas é fato que precisaremos lidar com essa dádiva que nos foi concedida pelos avanços da medicina moderna, a longevidade: os anos a mais que ainda teremos pela frente.
Pesquisa do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) de 2008 mostra que os brasileiros viverão, em média, até os 72,6 anos. Estudos apontam que no Japão, a expectativa de vida deve chegar a 88 anos até 2050, na Austrália a média é de 85 anos e nos Estados Unidos, as projeções acenam para uma longevidade de 82 anos.
Tradicionalmente, os 50 anos marcam o início da contagem regressiva para a aposentadoria. Quem recebe aquela temida notícia de que está demitido nessa idade entra em pânico porque sabe que as oportunidades tornam-se bem mais escassas. Por isso mesmo, é necessário pensar desde cedo em um plano B (leia sobre ‘Plano B’ em ‘mais sobre o assunto’, abaixo).
Dados do IBGE revelam que os cinquentões não querem mais ter patrão. Prova disso é que de acordo com um estudo referente a abril de 2008, um terço desse grupo atuava por conta própria. Seja por falta de opção ou senso de oportunidade, eles se dão bem: a renda mensal dessa faixa etária é 34,5% maior que a da média, aponta a pesquisa.
Os dados impressionam, mas é preciso ir com calma. Ser dono ou empregado é uma questão que precisa ser avaliada com bastante cuidado. Não é qualquer um que possui vocação para tocar um negócio próprio. Muitas pessoas pensam: “Agora não tenho mais que dar satisfação a ninguém e posso acordar a hora que quiser.” Mas quem quer ser dono do próprio nariz precisa pesar algumas coisas. Em primeiro lugar, é importante fazer uma rigorosa análise de si mesmo, conhecimento e competências. Não podemos esquecer que nunca se deve entrar num negócio com o qual não se tenha afinidade.
Outro ponto importantíssimo é aproveitar bem a rede de contatos – o famoso “networking” – que foi construída ao longo da vida. As experiências passadas também não podem ser descartadas, porque servem de referência antes de se decidir no que investir. Lembrem-se: o conhecimento acumulado resulta em maiores chances de o negócio dar certo. Evitem uma visão romantizada, arrogância e excesso de ousadia.
Empreendedorismo parece ser uma alternativa válida para os cinquentões que perderam o emprego e para aqueles que, precocemente, abandonaram o sobrenome corporativo. Existem outras opções, igualmente válidas e atraentes, que abordaremos no próximo artigo. Se você puder esperar, não vai se arrepender.
A lição de vida que fica e que serve para qualquer uma de suas escolhas é que sempre será necessário estar preparado para um cenário inesperado, imprevisível, adverso, que um dia baterá à sua porta. Caso contrário, a única alternativa que restará é seguir o conselho do gente boa Zeca Pagodinho: “Se a coisa não sai do jeito que eu quero também não me desespero, o negócio é deixar rolar. E aos trancos e barrancos, lá vou eu! E sou feliz e agradeço por tudo que Deus me deu… Deixa a vida me levar, vida leva eu”!
Fotos/ilustrações: divulgação
Consultor de carreiras e gestão de negócios, blogueiro do R7 Fala Brasil (o colunista faleceu em 2020) (mensagens enviadas a este colunista serão respondidas pela Redação do Portal Terceira Idade)