Antes de entrarmos propriamente no assunto ‘depressão em pessoas com mais de 60’, convém lembrar que há uma diferença importante entre sintomas depressivos e depressão.
Se uma pessoa não apresentou sinais da doença ao longo da vida e, quando atinge a terceira idade, começa a apresentar o quadro, é muito provável que sejam sintomas depressivos devido a questões enfrentadas pelas pessoas nesta etapa da vida e não um quadro de depressão de fato. Estes sintomas depressivos acometem as mulheres, mas é bastante comum entre os homens também.
Sintomas acometem mais as mulheres
Nas mulheres, os sintomas depressivos estão associados ao fim do período reprodutivo, com a chegada da menopausa. Como em nossa sociedade existe uma crença muito persistente de que a mulher tem como sua função maior a de procriar, quando ela deixa de ter a função reprodutiva, há uma tendência a uma sensação de inutilidade e de perda de sentido da vida. Como esta fase coincide, muitas vezes, com a saída dos filhos de casa, isso colabora ainda mais para a sensação de perda que a mulher passa a sentir. Para muitas mulheres, esta fase passa a ser um marcador de velhice.
No homem, como sua vida quase inteira foi dedicada ao trabalho e toda a sua rede de relacionamentos em geral girou em torno do mundo do trabalho, há uma ruptura com tudo isso com a chegada da aposentadoria, principalmente quando não acontece um desligamento programado pela própria pessoa. Imaginem como se sente uma pessoa que passou quase 40 anos de sua vida fora do ambiente doméstico e de repente não tem mais aquele ambiente externo para preencher a sua vida! Para muitos homens, este passa a ser um marcador de velhice.
Aí aparecem os sintomas depressivos
Falta de vontade para a vida, sono de má qualidade, sonolência e cochilos diurnos, humor instável, queixas de memória, tristeza, aparecimento de doenças e muitos outros problemas… Quem conhece alguém assim?
Estes não são sinais de que a pessoa tenha desenvolvido uma depressão, mas, sim, que desenvolveu sintomas idênticos.
A diferença é que, com uma mudança comportamental e algumas outras medidas de melhoria de qualidade de vida, a pessoa consegue sair desse estado e dar um novo sentido para sua vida nessa fase – o que é muito positivo para a pessoa e para todos os que convivem com ela.
Abandono das crenças negativas é a atitude mais importante
É importante saber que a sua vida pode ser dedicada aos outros – mas essa dedicação não pode ser total, pois você não deve ter como único sentido da sua vida a dependência que o outro tem de você, pois essa dependência um dia acaba.
E, em relação ao mundo do trabalho, você deve saber que a importância e a dedicação ao seu trabalho têm que ser divididos com a participação na vida doméstica, para que você não se sinta um estranho dentro de sua própria casa quando esta fase do trabalho externo terminar.
Busque atividades que lhe deem prazer, procure se dedicar a alguma causa social, mas, principalmente, procure aprender coisas novas, exercitar sua atividade intelectual e, quem sabe, uma atividade artística, descobrindo um talento que você nunca desenvolveu!
Garanto que, se você conseguir fazer tudo isso, não sobrará tempo para aquelas dores e doenças que dão a impressão de estar se instalando uma depressão.
Muitas vezes, estes sintomas o levam a precisar de tratamento medicamentoso, o que muitas vezes pode ser evitado. Lembre-se, a chave está com você mesmo!
Fotos/ilustrações: divulgação
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Como sei se a minha tristeza é realmente depressão?
“Suspeito que tenho depressão. Como é feito o diagnóstico da doença? Existem exames para isso?”
Gerontóloga pela USP (Universidade de São Paulo) e Vice-Presidente da ABG (Associação Brasileira de Gerontologia) (clique aqui para falar com a colunista)